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Na busca pelo namorado perfeito, acabamos cada vez mais sós

Em 2013, o filme ‘Ela'(Her), dirigido por Spike Jonze, nos apresentou a possibilidade de um romance entre o protagonista Theodore Twombly, um homem solitário que recentemente encerrara um relacionamento, e um sistema operacional inteligente e sensível chamado Samantha, dublado por Scarlett Johansson. Na época, a ideia parecia divertida, mas distante de se tornar realidade.

Onze anos depois, começamos a ver esse comportamento emergir. Uma matéria da BBC News Brasil de 5 de junho relata que chinesas estão trocando homens reais pelo ‘namorado perfeito’, criado por uma versão modificada do ChatGPT. Essa tecnologia, chamada de ‘jailbreak’, é uma modificação de software feita em dispositivos eletrônicos para remover restrições impostas pelo fabricante. A versão chamada Dan, que significa ‘Do Anything Now’, burla medidas de segurança da OpenAI e interage de forma mais liberal com os usuários.

Esse novo comportamento é uma variante do funcionamento das redes sociais. Quando pensamos em consumo, deixando de lado o aspecto comportamental, a questão crucial é o tempo dedicado a essas ferramentas. O virtual não é o oposto do real; o oposto de real é o irreal. O virtual acontece de forma simulada, em ambientes online, consumindo nosso tempo de vida real. As pessoas nem sempre percebem, mas essas tecnologias acabam consumindo um de seus itens mais preciosos: seu tempo.

Isolando essa questão e refletindo sobre o impacto desses novos comportamentos na vida dos consumidores, é preocupante perceber que desenvolvedores e empresas de tecnologia nem sempre consideram o efeito de suas ferramentas. Revendo o filme ‘Ela'(Her), percebi que ele aborda os dilemas modernos da solidão. As redes sociais criaram interfaces de relacionamento e, aos poucos, trocamos nossa comunicação tradicional por novos comportamentos.

Por exemplo, deixamos de usar o telefone para chamadas de voz e passamos a trocar apenas mensagens de áudio e texto. Isso reduz o processo de comunicação e, muitas vezes, o entendimento. O tom de voz revela sentimentos e emoções, e quando somamos os movimentos do corpo, ganhamos significados. A comunicação completa — voz, entonação e movimento corporal — proporciona uma maior riqueza de entendimento.

O uso crescente de comunicação intermediada por equipamentos reduz nossa sensibilidade e empatia. Quando pequenos, aprendemos a nos relacionar e a viver em sociedade. Comportamentos simples, como dividir as coisas ou esperar nossa vez, resultam de treino. Hoje, vivemos uma epidemia de solidão, e temo que muitos estejam perdendo o trato social. Quando penso nas jovens chinesas que encontram o namorado perfeito num sistema operacional, vejo uma sociedade com medo e me pergunto se elas sabem o que estão perdendo. Pesquisas mostram que essa vida mais solitária está adoecendo muitas pessoas, mas algumas consequências ainda são desconhecidas, pois esses comportamentos são muito novos.

Vivemos tão imersos em ferramentas que nos oferecem apenas o que gostamos que não conseguimos mais conviver com alguém que nos contraria. Estamos tão mimados por equipamentos que o namorado perfeito parece ser a solução para evitar decepções. Pergunto-me se paramos para pensar no que de fato estamos perdendo. Os relacionamentos não são perfeitos, mas a troca nos modifica e nos faz conhecer algo novo. Sou melhor a partir do convívio com a pessoa que amo.

Tenho medo dessa ideia infeliz de perfeição, pois não a vejo no mundo em que vivemos. Perfeição é um conceito, não devia ser uma meta. Portanto, não espere que eu lhe diga o que fazer. Estou apenas infeliz vendo várias garotas chinesas conversando com elas mesmas.

Desconecte-se. Descubra a beleza do convívio.

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