No início do ano, convivi com um vizinho que, infelizmente, não conheço de fato. Nós apenas dividíamos o mesmo espaço de caminhada no meu bairro em São Paulo. Ele acordava cedo para levar seu filho, que parecia ter pouco mais de um ano, para passear em um carrinho, sempre acompanhado de seu cachorro. O que me chamou a atenção foi que, mesmo já tendo duas responsabilidades, ele realizava essa tarefa com fones de ouvido, provavelmente ouvindo o noticiário ou música.
Essa cena, repetida por vários dias, me deixou com uma sensação ruim. Entendo que o cachorro, ao longo do tempo, pode se acostumar à falta de atenção, mas o bebê crescerá e, talvez, aprenda por observação que o tempo do passeio é um tempo solitário.
Quando digo que vivemos conectados, mas cada vez mais sozinhos, tento mostrar como nosso comportamento está nos isolando em bolhas de solidão. Esse pai, sem saber, está perdendo momentos preciosos com seu filho. Estudos mostram que 90% do tempo de convívio entre pais e filhos acontece até os 18 anos, e os primeiros sete anos são cruciais, pois a criança passa a maior parte do tempo com os pais. Se pudesse lhe dar um conselho, eu diria: “Amigo, esteja presente. Olhe para o rosto do seu filho, comunique-se com ele.”
Hoje, temos o péssimo hábito de nos acostumarmos a realizar várias tarefas ao mesmo tempo, algo que o mundo moderno valoriza como uma habilidade importante para o desenvolvimento profissional. No entanto, isso é um engano. Li em um estudo que apenas 4,5% da população mundial consegue realmente prestar atenção em duas tarefas ao mesmo tempo.
Ser multitarefa significa realizar múltiplas atividades simultaneamente, como responder e-mails enquanto participa de uma reunião ou cozinhar enquanto ouve um podcast. Embora possa parecer que isso aumente sua eficiência, quero alertá-lo sobre os riscos da atenção dividida. Mesmo que você seja parte dos 4,5% de pessoas que conseguem fazer isso, há sempre uma perda, seja na comunicação, seja na concentração. Isso pode levar a estresse ou até esgotamento. Estudos demonstram que trabalhar em duas tarefas simultâneas resulta em uma diminuição da eficiência e produtividade.
Se você discorda de mim, responda: você ficaria confortável sabendo que o médico que vai realizar uma cirurgia em alguém que você ama está dividindo a atenção com outra atividade ao mesmo tempo?
Tenho certeza de que não. Você pode argumentar que isso é diferente, mas imagine como se sente a pessoa que espera na fila enquanto você consulta seu celular, ou como as pessoas na reunião se sentem quando você não abre a câmera para participar.
É triste conviver com zumbis, pessoas conectadas aos seus aparelhos, mas distantes do mundo real ao seu redor. Elas não respondem às nossas saudações e não demonstram interesse em nossas conversas, imersas em um mundo virtual em busca da atenção de pessoas que nem estão ali.
Nosso vício em conexão nos faz pensar que estamos sempre perdendo algo que acontece longe de nós, mas, na verdade, estamos perdendo a vida que acontece ao nosso redor. Eu aprecio pessoas que estão presentes, que entendem que o tempo real que vivemos é o que realmente temos, pois nunca sabemos quanto tempo futuro nos resta.
Seja nas tarefas do dia a dia, seja no passeio com seu cachorro, esteja presente. Para mim, um dos sintomas dessa epidemia de solidão que vivemos é a falta de conexão com o mundo real, com as pessoas ao nosso redor.
Gaste mais tempo em conversas presenciais e, quando for inevitável um papo virtual, abra a câmera e esteja presente. Eu me esforço para alternar o tempo isolado no home office com boas conversas presenciais com amigos queridos. Desconecte-se, a vida acontece no presencial.
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