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Fonte: Divulgação Ge TV

Uma nova TV para um novo consumidor

Nos últimos anos, o fenômeno da CazéTV tem sido muito associado a uma grande mudança no consumo das novas gerações. É um fato, mas entendo que ele é apenas parte da resposta. Devemos somar a outros movimentos, como a Kings League, a série Drive to Survive na Netflix e o crescimento da audiência em campeonatos de surfe e skate no Brasil.

Falar sobre jovens é sempre complexo. Podemos defini-los por idade, mas, na prática, eles são diversos por natureza. Muitas vezes, buscamos uma “isca” para conquistá-los, reduzindo-os a um padrão que raramente funciona. Há diferentes gerações e interesses, e encontrar um ponto comum é tarefa difícil — e perigosa.

O esporte e a música sempre foram fórmulas usadas para alcançar esse público. Por natureza, eles são desbravadores: consomem o novo o tempo todo, sem medo da experiência. Já nós, mais velhos, vivemos presos à força do hábito, que muitas vezes nem percebemos — e por isso permanecemos fiéis aos formatos, esperando que os jovens façam o mesmo.

Lembro quando Tiago Leifert, em entrevista ao Maquinistas da Máquina do Esporte, avaliou que a qualidade da transmissão esportiva no Brasil “piorou” nos últimos anos, tornando a experiência do fã de futebol precária. Se somarmos isso ao ponto trazido por Vinicius Gholmie, fundador da Mantie-AI, que destacou a dificuldade em reter jovens em conteúdos longos, o cenário se torna evidente. Noventa minutos de uma partida de futebol já parecem excessivos para eles.

Nesse contexto, o fenômeno da Kings League torna a mudança ainda mais clara. A liga é uma resposta direta ao modelo tradicional: mais ágil, dinâmica, desenhada para manter o entretenimento ativo a cada instante.

Na semana passada, testemunhamos o lançamento da GETV — provavelmente um marco da televisão brasileira. Um movimento ousado da Globo, que apresentou um produto com nova linguagem e, sobretudo, um novo formato de distribuição: resposta direta ao sucesso da CazéTV e às transformações no consumo de esporte.

A grande virada é que as emissoras não pretendem mais prender o público a um único equipamento. Hoje, a audiência é fragmentada: o consumidor se acostumou à comodidade de assistir no dispositivo e no momento que preferir. A TV deixou de ser o centro da casa há muito tempo.

A Globo fez algo difícil: buscou a reinvenção, criando alternativa e identidade. Permitiu uma linguagem mais solta — até com palavrão — e trouxe um jeito mais divertido de transmitir. O entretenimento virou o filtro principal. Sem a rigidez da grade em um único aparelho, o pré-jogo se transforma em recortes que circulam por muito mais tempo. A audiência é fragmentada tanto nos equipamentos quanto no modo de consumo. Eu mesmo assisti ao jogo do Brasil na GETV apenas no dia seguinte, pelo YouTube, e provavelmente em outras plataformas. A fragmentação é a base desse consumo. E o aprendizado está só começando: tanto a GETV quanto a CazéTV ainda vão testar muitos formatos. Para mim, no entanto, a transmissão de ambas ainda se parece muito com a da TV aberta — um ponto de atenção.

O fato é: não dá para agradar jovens e adultos ao mesmo tempo. Eles convivem, mas os jovens estão sempre mais atentos ao novo. Inovar em formato exige coragem, experimentação, busca por novos talentos e proximidade com o consumidor. É aceitar que muita coisa mudou.

Recentemente, Afonso Abelhão, amigo querido e referência no mercado publicitário, compartilhou uma experiência marcante. Em conversa com uma geneticista, ouviu que as novas gerações estariam perdendo o hábito da leitura de livros e quis prever as consequências. Talvez esperasse preocupação, mas recebeu outro olhar: para ela, os jovens não leem menos, apenas buscam novas formas de conhecimento — em vídeo, áudio ou outros formatos. O que parece perda para os mais velhos é, na verdade, evolução.

A GETV já nasce “velha” em conceito, mas é uma resposta inteligente. Mostra o entendimento de que não conquistaremos novos consumidores com os mesmos formatos que agradaram as gerações passadas. A grade de ontem não fala com eles hoje.

Os formatos que dominaram a TV por anos perdem força a cada temporada. Pode parecer antieconômico, já que investir no novo custa caro, mas é inegável que, desde os reality shows, não víamos um desenvolvimento tão potente de novas linguagens quanto o que o esporte tem proporcionado.

Precisamos compreender o padrão de consumo dos jovens e parar de buscar atalhos. Como a GETV mostra, a fragmentação é a chave para conquistá-los. Nem sempre haverá grandes volumes de audiência, mas haverá engajamento e segmentação.

Ainda é cedo para prever para onde isso nos levará, mas é certo que o esporte vem se fortalecendo tanto na conquista de audiência ao vivo quanto no consumo prolongado de conteúdos relacionados. A concorrência, nesse caso, é motor essencial — ela obriga todos a melhorarem.

Seja bem-vinda, GETV. A transformação do mercado está só começando.

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