Outro dia ouvi um “não sabia que você fazia esse tipo”. A pessoa não estava falando das minhas escolhas de roupa ou música, muito menos sobre tipografia. Estava falando do meu “estilo de ilustração”. Por vezes me pergunto se existe realmente um único tipo. Como diretore de arte, entendo com facilidade que precisamos adaptar nosso trabalho e acho que é esse o caminho. Mas será que precisamos ter um estilo?
Um professor da faculdade me falou algo que ficou cravado na minha cabeça por anos. Torcia o nariz, revirava os olhos e me recusava a passar o ensinamento aos meus juniores. “Designer não é artista” seguido de “que tipinho” como quem quer dizer: “‘função’ é maior que arte, você não precisa dessas coisas” e o meu “tipinho” era gostar de arte. Hoje, é com muito pesar que constato que ele estava certo, parcialmente. Claro que na época tive aversão à fala pela situação. Na época eu estava me preparando pra minha primeira exposição individual. Fazia lambe-lambes, fotos, quadros e zines. Respirava arte e para mim a inspiração vinha daí. Quer dizer, ainda vem daí. Uma fase de muita exploração e criação manual. Eu era um “tipinho” mesmo. Já era artista, queria ser designer. Hoje eu sei quanto foi importante ter devorado tantas referências e testado tantas técnicas.
Na nossa profissão é necessário que a gente se adapte ao briefing, ao branding e aos desejos do cliente que muitas vezes saem do padrão que ele mesmo criou. Mais importante que isso é ter referência para passar pelos processos sem perrengue, ou com menos. Conseguir traduzir desejos através do storytelling e imagética é o que nos faz únicos na nossa profissão.
Quando questionaram meu estilo, eu parei para refletir sobre a arte e a função. Se realmente precisamos ter um estilo único, uma assinatura 100% nossa como nas artes plásticas, por exemplo, e fazer apenas de uma única “forma”. Cheguei a conclusão que podemos continuar sendo um “tipinho”. Nos colocarmos em caixinhas nos limita, ser um “tipinho” nos expande. Continuar testando, estudando, criando além da função.
Penso que apesar do cargo carregar o termo “arte”, a arte não está clara em tudo que fazemos, mas ela está lá pelas nossas referências e história. Ela nos auxilia. A função é maior que a arte no nosso caso, mas não significa que é inexistente. Existem dias que só precisamos comunicar e é isso! Tudo certo. Apesar da arte não estar necessariamente escancarada no resultado, ela está lá de forma mais sutil. A escolha de uma paleta, o jeito que você constrói o nugget, preferências de tonalidade de imagem e composição.
Meu estilo é ser um “tipinho” e o seu?
Gostou do conteúdo? Acesse nossa home e veja mais.
Acompanhe também nosso perfil nas mídias sociais.