Segunda feira, faz calor depois de semanas chuvosas. Um alívio necessário para dar um gás na saúde mental. Nas últimas semanas eu trabalhei como na juventude — e vivi também como se tivesse 20 e poucos novamente. Não creio que seja o “modo jovem” em si, mas o meu pessoal era muito da “correria”. Nessas semanas mais recentes, trabalhei de segunda à segunda, das 9h às “quem sabe que horas vou parar”, perdendo os poucos feriados desse ano, mas fazendo muita coisa bacana.
Com a discussão da escala 6×1 em alta, me peguei refletindo quase que diariamente. Sou, sim, muito privilegiado de poder trabalhar com o que amo. Mas qual é o limite? É claro que eu adoraria trabalhar com mais respeito ao meu próprio tempo e é mais clara ainda a falta de respeito ao profissional quando isso se aplica a outras áreas. Existem caminhos que seguimos para sobrevivência. Ainda mais vivendo em São Paulo. Parece loucura termos que discutir a importância do tempo das pessoas e parece loucura também a escala na qual me meti.
Essa pauta percorreu caminhos infindáveis na minha cabeça e bateu na porta de uma questão que venho pensando há meses: qual o limite entre a nossa identidade e a nossa profissão?
Em quase todos os ambientes que eu permeio, o “eu sou designer” chega antes do meu próprio nome. Nos almoços com marca, nas diárias de foto, nos dias de set, nos aniversários de amigos, almoços de família: designer.
Depois de um longo dia na escala 6×1, enquanto eu esperava meu ônibus para casa, percebi que havia semanas que eu não ia ao sacolão, que eu não cozinhava e que a versão CNPJ tinha tomado conta da versão CPF. O que sobra se eu tirar o design da minha vida? De certo eu tenho muitas outras habilidades que amo, mas por que é difícil colocarmos essas coisas como parte de nós quando não estamos sendo pagos para isso? Ou será que estamos?
Em tese, não seria o trabalho que “financia” nossos hobbies e atividades? Não é ele que paga nossos estudos e experiências? Que paga nosso tempo de descanso, nosso tempo livre?
Domingo, fim de noite, exausto, assistindo uma série sobre cinema enquanto crocheto um cachecol (sim, em pleno verão), para tentar desopilar. Olho para dentro de mim e percebo que eu não consigo me apresentar como outra coisa que não designer, apesar de literalmente pintar, bordar, costurar, discotecar, compor música e um tanto de coisas mais.
Será que é essa escala esmagadora que faz com que eu me torne apenas designer ou eu me tornei apenas designer por mim mesmo? Ser designer é parte da minha identidade, mas sou tanto mais e esse tanto mais é o que me deixa mais designer. Quando eu olho para as sobras, percebo quanto esses “hobbies” são necessários para eu expandir minha profissão. E esse é um papo para os próximos capítulos.
Por hora, deixo a reflexão: o que você é além do CPNJ?
(Texto escrito no trânsito infernal da Brigadeiro Luís Antônio às 19h45 de quinta-feira)
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