Na minha caminhada, em uma das boas conversas que tive, encontrei um conceito que bateu fundo no meu coração — e em que acredito muito. Quem me falou dele contou sobre uma palestra que se chamava exatamente: Tem coisas que só aprendemos em casa. Inclusive, mencionou o nome do palestrante. O curioso é que tive a chance de falar com esse palestrante e ele me disse que nunca fez uma palestra com esse nome. Provavelmente meu amigo se confundiu, mas, ainda assim, me deu um presente.
Eu creio profundamente que tem coisas que só aprendemos em casa. Mas não entenda isso como algo que acontece de forma igual para todos. Se você tem muitos irmãos, como eu, já deve saber que não existe coisa mais diferente do que irmãos. Ainda assim, alguns pontos compartilhamos — e talvez sejam esses os legados que nossos parentes nos deixaram.
Veja que existem vários ditados e ideias repetidas que reforçam isso: “A criança faz o que vê, não o que ouve”, “educação vem de casa, a escola ensina, mas quem forma é a família” e “valores não se ensinam, se vivem”.
Quando pequenos, somos como esponjas, absorvendo tudo à nossa volta: palavras, comportamentos, gostos. Com o passar do tempo, vamos adquirindo crenças e atitudes que formam a base da nossa identidade e conduta social. Entendo que isso ocorre, principalmente, no ambiente familiar.
Descobri que diversos autores falam sobre isso — e de como, às vezes, esse processo é até inconsciente. A família é nossa primeira grande referência. Para muitos, o maior aprendizado vem do modelo comportamental dos pais.
Não tenho base científica ou amostral, mas, para mim, honestidade, generosidade, respeito e hospitalidade são exemplos de coisas que nos marcam profundamente, e que só aprendemos em casa.
Conheci um líder social incrível, o pastor João Boca, que dedicou muito tempo de sua vida ao trabalho na região da Boca do Lixo, no centro de São Paulo — área que mais tarde passou a ser chamada de Cracolândia, onde infelizmente perdemos pessoas todos os dias.
Ele tirou muitas pessoas do vício nas ruas do centro, mas também perdeu outras tantas. Ele me mostrou a importância de olharmos para essas pessoas e perguntarmos seus nomes. Um dia, tentando entender sua vocação, ele me contou que seus pais tinham o hábito de hospedar em casa pessoas que estavam de passagem, andarilhos mesmos, sem ter onde ficar. Muitos deles buscavam apenas se reencontrar.
Foi na generosidade dos pais que ele aprendeu a partilhar afeto. Entendo que o afeto também é algo que se aprende em família. Vivi num lar onde havia poucos abraços, e até hoje, entre nós, essa manifestação de afeto é difícil. Isso foi algo com que tive que aprender sozinho.
Não quero que pense que, por conta disso, você está condenado a não desenvolver algumas dessas atitudes. Muito pelo contrário: perceber isso pode ajudar você a buscá-las — e assim conquistá-las. E, caso você venha a construir uma família, terá a chance de, junto da sua companheira ou companheiro, dividir outra cultura familiar. Será a combinação de duas heranças, a partir do melhor de cada um. E penso que, assim, seguimos buscando sempre o melhor.
Seja grato à sua herança. E, se puder, agradeça aos seus pais por terem feito de você quem você é.
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