Foi em um curso com um brilhante professor americano que aprendi a técnica para fazer meus alunos participarem das aulas respondendo perguntas. Ele começou a conversa com uma boa pergunta: “Quando você faz uma pergunta aos seus alunos, você espera pela resposta?” Ele já sabia que a resposta seria negativa. A maioria dos professores, após um intervalo de segundos, fornece a resposta, pois a turma normalmente não participa.
Foi então que ele ensinou sua técnica. “Provavelmente existe uma mesa na sala onde vocês dão aula”, ele nos disse. A plateia consentiu e ele seguiu. “O processo é muito simples: faça a pergunta e depois vá até sua mesa e sente-se, não na cadeira, mas na própria mesa, e diga aos alunos que você vai esperar por uma resposta.”
O silêncio é desconfortante.
Posso garantir que, após cinco minutos em silêncio, vários alunos estarão participando e o processo tomará forma. Sem perceber, repetimos padrões que muitas vezes não fazem o menor sentido. Um professor falando durante 45 minutos para uma audiência que finge atenção é uma grande perda de tempo.
No meu MBA de Marketing na ESPM, tive aula com o professor Claudio. Não lembro seu nome completo, pois perdi o material do curso numa mudança, mas devo dizer que ele mudou a forma como dou aulas a partir da participação em seu curso. Eu já era professor e seu exemplo me impressionou muito.
Ele praticamente não usava slides; eram poucos durante uma aula sua, mas ele propunha um tema para começar a conversa e pedia a participação da turma. Ele conhecia bem a técnica do silêncio e da paciência, mas me impressionou com outra técnica: ele cortava alunos que estavam muito distantes do assunto.
Ele era muito educado e dizia: “Me desculpe, para não perdermos tempo, não é esse o caminho que buscamos. Reformule ou então eu passo para outro aluno.” A troca era muito boa e nos obrigava a ler mais e a nos preparar para as aulas. O nível de retenção era imenso e a aprendizagem muito mais efetiva.
Sempre estimulei as perguntas, mas era rigoroso com as risadinhas. Nunca tolerei, pois não existe pergunta ruim ou boba; existe apenas a falta de espaço para perguntas. Foi perguntando que aprendemos muito do nosso vocabulário e construímos o entendimento quando éramos crianças.
Lembro que, quando pequeno, com pouco mais de 10 anos, perguntei ao meu pai como as televisões ganhavam dinheiro. Não lembro da resposta, mas sei que foi complicada, pois ele também não sabia. Não sei se é uma mera coincidência, mas construí minha carreira vendendo publicidade e, por muitos anos, vendi publicidade em canais de televisão. Atrás de perguntas existe um mundo de possibilidades.
Respeito muito quando alguém pede um tempo para pensar. Meu sogro, um querido amigo, sempre faz isso. Ele nunca decide algo complexo de imediato e entendo que ele faz bem. Mesmo quando recebemos uma pergunta, podemos pedir um tempo para pensar, mas nem sempre nos preocupamos com isso. Pior, pessoas como eu, falantes, têm o péssimo hábito de responder de pronto, geralmente se valendo de generalidades.
Hoje vivemos uma era de tecnologias avançadas de aprendizado de máquina, como o GPT-4 da OpenAI, que utilizam bilhões de parâmetros para entender e gerar texto de forma semelhante à linguagem humana. Mas a base, pelo menos hoje, dessas ferramentas é o texto, ou melhor dizendo, nossa pergunta.
Para buscarmos bons dados, precisamos aprender a fazer boas perguntas, e isso só se consegue com paciência para pensar. Não tenha pressa; a urgência é a mãe da falta de profundidade e da cópia.
Gosto de deixar as ideias e os textos descansarem. Um dia ou algumas horas depois, eles fazem mais sentido ou perdem totalmente o nexo. Amo frases bem construídas, pois entendo que não surgem facilmente. Elas são resultado de esforço, de garimpo, de dedicação.
Sou muito grato a alguns mestres que me ajudaram a trilhar os caminhos do conhecimento, pois foi assim que penso ter ganhado ainda mais dúvidas, pois na certeza não existe mais aprendizagem. Quem está certo chegou ao fim do pensamento.
Seja generoso com sua mente, tenha tempo e paciência para pensar.
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