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O peso do mundo nas costas de uma mulher…

Emicida é mais que uma referência na minha vida. Ele é um mestre que me ensina a cada instante, através de sua arte e inteligência. Quem sabe, um dia, o Pai do Céu me ajude a ter um papo com ele – seria incrível. Ele está aqui hoje porque me emocionei ao falar com uma amiga sobre uma de suas músicas: Mãe. Não sei quantas vezes já ouvi, e não sei quantas vezes mais vou me emocionar ouvindo.

Eu tinha 17 anos quando perdi meu pai. Era o mais velho de quatro irmãos e não tinha ideia de como nossa vida mudaria. De um dia para o outro, me vi com apenas minha mãe e três irmãs. Durante muito tempo, até as cachorras da nossa casa eram fêmeas. Fui cercado por mulheres fortes ao longo de toda a minha vida, e talvez isso tenha me dado uma visão diferente do mundo.

Sou privilegiado. Sou homem, heterossexual e branco. Tenho plena consciência de que sou sortudo. Não faço ideia das dificuldades que você, mulher, passou na vida. Eu simplesmente não entendo, porque sempre tive vantagens. Mas, como Emicida, eu sonho com o dia em que as mulheres não precisem ser tão fortes.

Às vezes, os comentários sufocados de homens perdidos me assustam. Eles estão aterrorizados e, nas sombras, expressam suas frustrações, pois não têm coragem de falar abertamente. No fundo, eles sabem que as mulheres são gigantes. Basta ser filho e ter a sorte de conviver com nossas mães para entender o quanto elas são fortes.

Tive o privilégio de acompanhar a história de vida de Edu Lyra e João Diamante, dois caras que iluminaram minha vida. Eles são quem são graças a suas mães incríveis, duas mulheres guerreiras. Com Emicida não é diferente. Como ele diz na música: “Em tudo eu via a voz de minha mãe, em tudo eu via nós.”

As mães não pensam em si, elas pensam em nós. Minha mãe, Dona Ilára, assumiu o trabalho do meu pai e começou a trabalhar como vendedora no mercado de materiais de construção. Nem todos abriram as portas para ela, mas ela nunca desistiu, nunca disse que não dava. Não me lembro de vê-la chorar ou desanimada. E, como Emicida, eu também me pergunto: “Mãe, de onde você tirava tanta força?”

Tive a sorte de encontrar outra gigante, minha esposa Jailse, que me fez ser o homem que sou. Ela é filha de Laís, uma das mulheres mais inteligentes que já conheci. A outra é nossa filha. Minha esposa me deu o presente de dois filhos incríveis, mas Vanessa, nossa filha, iluminou a minha vida.

Lembro dela pequena, desistindo de jogar batalha naval no computador. Perguntei: “Cansou, filha?” E ela respondeu: “Não, pai, é que o computador sabe onde estão os meus navios.” Nunca tinha percebido isso, mas, para ela, a brincadeira perdeu a graça ali.

Minha filha sempre lutou pelas mulheres, no lugar certo. Sempre atenta ao comportamento errado, à falta de respeito, e principalmente às atitudes que já não cabem mais. Ela me surpreende porque continua meiga e doce, mas experimente enfrentar alguém que ela ama.

Tenho muita vergonha do mundo que vocês, mulheres, precisam viver, porque ele foi construído por homens. Não é à toa que ainda temos tantas coisas ruins. Quero acreditar que estamos plantando um futuro melhor, mas os números de feminicídios em nosso país sempre me trazem de volta à realidade, tão dura.

Eu continuo sonhando com um mundo melhor e mais justo, e entendo que ele será um mundo com cada vez mais mulheres na liderança. E, como Emicida, eu também digo: eu vi Deus, e sim, ele é uma mulher preta.

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