Há alguns anos, assisti a um evento com pequenas palestras sobre sustentabilidade. Um dos palestrantes, de forma brilhante, mostrou como um canudinho de plástico, algo aparentemente inofensivo, pode ser um problema enorme. Ele explicou que esse objeto permanece em nossa vida por, no máximo, 10 minutos e, depois, se transforma em lixo.

Naquela noite, decidi parar de usar canudinhos de plástico. Hoje, tenho um de metal que ganhei e uso regularmente em casa. Quando recebo um canudinho de plástico em restaurantes, bares ou lanchonetes, devolvo educadamente. Sim, eu sei que ele não é o maior vilão do consumo de plástico, mas percebi que podemos viver tranquilamente sem ele.

Essa mudança de hábito me fez refletir sobre outros aspectos do consumo.

Por exemplo, já faz tempo que adotei uma regra: sempre que uma roupa nova entra no meu armário, outra precisa sair. No passado, já descartei roupas que nunca cheguei a usar. Fico imaginando o impacto positivo que teria se cada pessoa doasse uma peça que não usou nos últimos 12 meses. Quantas vidas poderiam ser beneficiadas?

Só me conscientizei disso mais velho, mas penso no impacto que uma relação de consumo mais consciente poderia ter ao longo de uma vida. Ainda caminhamos lentamente para resultados mais amplos, e talvez eu seja considerado um pouco radical.

Por exemplo, nunca mais entrei em uma loja de varejo onde, aqui no Brasil, um homem negro foi espancado até a morte. Sei que minha decisão não impacta diretamente os lucros da empresa, mas, para mim, comprar lá deixou de ser uma opção. Alguns podem dizer que é radical, mas, em outras culturas, esse tipo de boicote é visto como um comportamento normal. O que aconteceria se todos tivessem a mesma atitude?

Nosso consumo molda o mercado. Ele direciona os interesses da produção. Veja o impacto da redução do consumo de plástico. Ainda é pouco, mas é um começo. Mesmo assim, temos hoje cerca de 170 milhões de toneladas de plástico nos oceanos, incluindo microplásticos que, consumidos por peixes, acabam entrando na nossa dieta. Será que ainda faz sentido financiar uma indústria que ignora os danos que causa? Quando vamos agir para reverter essa situação?

Também penso no impacto do avanço tecnológico sobre os empregos. Sou contra soluções que eliminem postos de trabalho. Por exemplo, pretendo nunca usar um veículo autônomo, pois considero isso inaceitável. Contudo, toda vez que utilizo os trens da Linha Amarela do Metrô de São Paulo, sei que estou usando composições totalmente automáticas, sem condutores. Entendo a eficiência, mas lamento a perda dos empregos.

O mesmo acontece no varejo, que tem substituído caixas humanos por sistemas automatizados. Embora possa ser útil em horários de pouco movimento, me pergunto: será que isso é realmente um ganho?

Após a pandemia, outro hábito comum foi o aumento das entregas de alimentos. Sem dúvida, uma conveniência incrível, mas que trouxe consigo uma explosão no uso de embalagens descartáveis. Fico pensando no impacto que isso deve ter na coleta de lixo das cidades e no meio ambiente como um todo.

Não quero que você adote minhas agendas, mas quero lembrar que você é responsável pelo seu consumo. Gosto muito do conceito de “footprint” (pegada, em português), que prefiro traduzir como “impressão da sua pegada”. Ele reflete o impacto que nosso consumo causa na natureza.

Estamos em um tempo em que o planeta parece nos dar sinais claros de cansaço. É como se ele cobrasse, todos os dias, pelos cuidados que negligenciamos por tanto tempo. Há muito a ser recuperado. Por isso, é essencial que exijamos das marcas e empresas um compromisso real com as novas realidades.

Lembre-se: você tem, no bolso ou no celular, o poder de transformar o consumo com um simples meio de pagamento. Sempre que estiver diante de uma marca ou empresa sem compromisso com a sustentabilidade, simplesmente não consuma.

A transformação começa com você…

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