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Fonte: Reprodução Unsplash

Nem tudo que é simples é rápido

Especialistas nos dizem que os jovens não têm paciência para conteúdos longos. Mas será que o problema está no tempo — ou na falta de propósito? Hoje, parece impossível manter a atenção em algo longo. E o resultado disso é que transformamos palestras em rodas de conversa. Estamos buscando soluções que, muitas vezes, parecem mais preocupadas com o entretenimento do que com a aprendizagem.

Esquecemos que a troca de conhecimento, desde sempre, aconteceu pela oralidade. O ensino mudou, sim — mas a verdadeira transformação está na forma como fazemos o aluno se tornar parte ativa da construção do conteúdo, não no tempo que ele dura.

Focados no formato, podemos estar esquecendo dos objetivos. No fim do processo, o aluno precisa aprender. Não podemos competir com a televisão, o streaming ou as redes sociais. O ensino precisa do interesse, mas também de dedicação.

Um podcast de uma hora ou mais gera cortes que viralizam. As pessoas, muitas vezes, não assistem ao episódio completo, mas comentam os trechos, compartilham, curtem. Seria mais simples produzir só os cortes então — mas eles só existem porque houve uma hora (ou mais) de conversa profunda. É o processo que permite o recorte.

Algo que me incomoda nos eventos de hoje é a ausência de perguntas, tanto em palestras quanto em painéis. Sem perguntas, não há troca. E sem troca, talvez nem saibamos se aquilo que foi dito realmente fez sentido para quem ouviu.

Recentemente, vi um post com a frase “make it fucking simple” estampada numa imagem. Aceito a provocação, tudo bem — desde que não confundamos simples com rápido. Traduzir ideias complexas em algo compreensível é um talento — muitas vezes, de bons professores.

Não acredito que tudo será simplificado no futuro, nem que deveria ser. Mas entendo que simplificar, quando bem feito, é um exercício poderoso. As palestras do TED estão aí para provar. Só quem já tentou condensar um conteúdo sabe o quanto isso exige reflexão e domínio. O simples verdadeiro é fruto de elaboração, não de pressa.

A obsessão pelo instantâneo pode nos empurrar para um conteúdo pobre, que confunde diálogo com passatempo. Um filme como Divertidamente, da Pixar, levou cinco anos e meio para ser feito. Ainda Estou Aqui, sucesso brasileiro, levou sete. Um livro, entre a escrita e a produção, pode exigir dois anos de dedicação. O tempo faz parte da entrega.

Sempre haverá o simples competindo com o complexo. Um fast food resolve a fome, mas não entrega a experiência da alta gastronomia. São propostas distintas — e ambas têm seu valor. Mas confundir agilidade com qualidade é um risco. Com a chegada da inteligência artificial, esse risco só aumenta. A IA é rápida, sim — mas agilidade não garante profundidade. E delegar sem elaborar é abrir mão da autoria.

Humanos produzem coisas incríveis o tempo todo, mas o tempo é, muitas vezes, o fator determinante da qualidade. Não aceleramos a maturação de um vinho, esperar é parte do processo.

Tenha paciência. Aprender leva tempo. E criar coisas incríveis, para mim, é muito mais uma habilidade moldada pela disciplina do que pelo talento.

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