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Não encher o SAC é sempre uma opção

Domingo de muito frio, aproveitando o grande privilégio de trabalhar de segunda a sexta num ambiente com ar-condicionado, me dei o direito de acordar tarde, sem despertador, com o único compromisso de comemorar em casa com a família um aniversário.

Passado o horário de almoço (daqueles que acordaram cedo), fui a uma filial X de uma doceria famosa perto de casa cumprir minha única missão do dia: retirar o bolo do aniversário. Como pra mim não era um horário de almoço, eu tinha acabado de tomar café, estava sem pressa.

Ao chegar a doceria nitidamente era um horário de pico das meninas que ali trabalham; entre pedidos vindos por telefone, site, aplicativo e presenciais, elas tentavam se organizar. Um problema recorrente é a indisponibilidade de variedades específicas aos clientes presenciais, não raras vezes eles apontam seus olhos famintos a produtos que ali exibem sua suculência, mas já que têm donos no aguardo do seu resgate.

Eram três meninas, todas muito alertas, e quem eu aleatoriamente escolhi pra me atender parecia não passar por um dos seus melhores domingos de frio. Num papo educadamente duro com um colega de equipe fechou um refrigerador com uma certa força excessiva, dobrou uma embalagem com um certo aborrecimento e demonstrava uma vontade grande de sair correndo dali ou utilizar de meios primitivos pra resolver questões filosóficas. Então chegou a minha vez de ser atendido por ela (aos mais ligados ao tema, chegava a hora de ela emitir a sua energia do dia ao alimento que eu levaria pra casa, e eu precisaria interagir com ela). Antes de qualquer palavra dela direcionada a mim, eu já detinha elementos suficientes pra um contra-ataque de grosseria ou um texto tão longo quanto este em um canal de SAC que poderia fazer com que aquela unidade, aquela pessoa, a filial X ou a rede toda pudesse ser alertada quanto a um padrão desejado de atendimento, que seguisse o padrão daquele manual de bom atendimento bem elaborado por um daqueles meus companheiros de ar-condicionado dos dias úteis. Apesar da possibilidade, a ideia do SAC nem passou perto da minha cabeça, substituí por um brigadeiro que eu mesmo peguei sozinho enquanto elas, da forma mais discreta, conseguiam se resolver.

Vindo de um sono sem interrupções bem quentinho, me deslocando de carro até a loja, num domingo tranquilo, eu já estava feliz. Decidi então tentar potencializar aquela sensação. Perguntei o nome da menina, estava no crachá, dava pra ler, mas fiz questão de perguntar; sei lá por que eu acho que as pessoas gostam de dizer o próprio nome. Repeti o nome dela sorrindo e disse “boa tarde” (por dentro eu pensava “bom dia”). Logo puxei aquele papo de elevador com um “poxa, tá frio hoje, né?”. Segui contando pra ela que eu gostava muito daquela doceria, que os produtos, o clima e especialmente as pessoas dali eram muito legais, e que principalmente os bolos eram produtos mágicos que as pessoas aguardam um ano inteiro pra comemorar os anos que passam com eles, que das poucas vantagens de se ficar mais velho é o sabor do bolo.

Além do bolo, comprei uma caixinha de brigadeiros, além daquele que eu comi avulso. Chega a ser impressionante a diferença de preço entre a caixinha e o avulso, matematicamente difícil de explicar isso, mas tenho uma grande convicção de que essa especulação não foi criada pelo trio de meninas, e que – caso me sentisse com vontade de questionar – não deveria ser com elas. Acabei optando por elogiar o brigadeiro, que – de fato – estava bem bom, e poderia até sair de graça caso eu não avisasse que eu comi.

Antes de ir embora eu a agradeci por estar ali hoje e disse que eu sabia o quanto era difícil trabalhar aos domingos (foi uma mentirinha ‘do bem’, eu nunca trabalhei aos domingos.)

Sai de lá feliz, pelo brigadeiro e por sentir que não resolvi o dia da menina, mas de certa forma melhorei um pouco. Ter enchido o saco no SAC poderia até causar algum efeito numa eventual melhoria de padrão, mas dificilmente melhoraria o dia de alguém, pelo contrário.

Ah, vale ressaltar que escrevi este texto antes de comer o bolo, mas posso garantir que estará bom, pois as meninas lá mandam muito bem.

Poucas horas depois terminou aquele expediente, espero que tenham chegado bem em casa.

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