Tem coisas que às vezes deixam a gente um pouco surpreso.

Preparado para uma história rápida?

Sabe que sou abordado constantemente por alunos, colegas, amigos, que me dizem que eu deveria voltar a escrever com maior frequência, porque meus textos eram engraçados.

Acho que eles se referem aos tempos em que eu levava minhas crônicas do dia a dia ao Facebook.

Sim, lamento te dizer, mas eu era um desses caras que fazia uns textos naquela mídia social ali. Pelo menos não eram textos de política, e isso já é bom pacas.

A verdade é que sempre fui um observador do cotidiano e adorava (ainda gosto, confesso) prestar atenção na conversa da mesa do lado, na mesa do bar, no que diz a secretária do médico ao telefone e por aí vai.

Eram essas histórias, somadas à pitadas generosas de humor e ironia, que faziam algum sucesso no Facebook dentre os que me seguiam.

Sabe que, às vezes, eu mesmo releio esses conteúdos e até me divirto mesmo com eles. Sem falsa modéstia, tinha coisa bacana escrita ali.

Mas como eu dizia no início do texto, vira e mexe alguém ainda me lembra que eu deveria voltar a escrever e contar um pouco dessas coisas pouco importantes, porém inusitadas, da vida comum.

A verdade é que tem me faltado ideia. Sim, me faltou ideia por esse tempo todo.

E se falta a ideia, eu nem abro o Word.

E na tentativa de tentar descobrir o motivo dessa falta de ideia, chego na simplista conclusão de que tenho observado menos o cotidiano e, por consequência, estão as conversas da mesa do lado no bar.

Ponto de atenção. Luz amarela piscando.

Que eu então urgentemente retome meus ouvidos atentos. Que na mesa do bar eu possa viver mais o momento em si, e não pensar no trabalho, na reunião, na planilha.

Eu quero sim ouvir todas as conversas da mesa do lado. Gente que fala mal do chefe, do namorado, da amiga que era falsa na faculdade ou mesmo das peripécias daquela senhora divertida em sua última viagem à Caldas Novas.

Minha profissão exige que eu seja um bisbilhoteiro, essa é que é a verdade.

Que eu seja novamente um observador completo ao comportamento humano, que é objeto do meu trabalho.

Repertório se cria com observação. Criatividade se cria com repertório.

Ficarei atento para que a ideia não me falte e pra que vocês possam voltar a ler minhas crônicas irrelevantes de Facebook.

Se prepare. Vem coisas horrendas e nada interessantes por aí.

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