Meu melhor amigo vive a 487,9 quilômetros de distância de mim, e isso é algo que não conseguimos minimizar. Mensagens de texto nos conectam, postagens nas plataformas nos permitem comunicar momentos, mas não seríamos amigos se não tivéssemos tido muitos momentos comuns presenciais no passado.
Somos seres relacionais. Não existimos plenamente sozinhos. Nosso desenvolvimento se dá através das relações com os outros — em geral, na família, amigos e sociedade. Nossa identidade, crenças e comportamentos são moldados por interações sociais.
Já escrevi sobre isso: somos a média das cinco pessoas com quem mais interagimos, e isso é tão parte de nós que nos transforma. Mesmo sem perceber, somos ligados a essas pessoas na essência, naquilo que vou chamar de alma.
Conheço o tom da voz do meu amigo e sei quando ele está triste apenas pelo “alô”. Às vezes, ele nem precisa falar. Essa capacidade de comunicação que temos é tão forte que nos dá vantagem em relação aos outros. Eu penso que sei aquilo que ele pensa, e ele sabe exatamente como eu penso.
Lembro de um dia em que desabafei com ele sobre mudanças em minha vida, e ele me falou: “Você mudou muito no último ano.” Aquilo foi tão importante, tão revelador, que não precisei que ele explicasse, pois funcionou de imediato.
Esse amigo tem a liberdade de me chamar de idiota. Ele tem a autoridade para falar de mim e talvez possa me reduzir ao pó com um comentário — e ainda assim ouvirei cada palavra, pois hoje eu sou quem sou em parte por muita influência dele.
Você lembra a última vez que teve uma grande mudança na sua vida? Elas podem ser geradas por acontecimentos à sua volta ou por coisas que acontecem a pessoas próximas de você, mas me arrisco a dizer que estão ligadas 100% às suas relações sociais.
Veja como bons professores mudam nossas escolhas e aspirações. Veja como muitos dos nossos gostos, predileções e referências nos são dados. Pense no artista da música que você mais admira. Será que ele foi uma escolha, ou será que alguém um dia te presenteou com essa referência?
Dados compilados das apresentações do último SXSW falam de saúde social, de solidão e de pessoas que vivem em pequenos ambientes, com intimidade com quase ninguém. As consequências disso são a limitação da intimidade e do repertório. A repetição passa a ser constante, e isso nos leva diretamente a uma sensação de vazio, de falta de novidade. Penso mesmo que acabamos perdendo a curiosidade.
É fato que sair de casa hoje é um desconforto, pois implica em dispender energia e tempo. Quando isso não nos interessa mais, o conforto de ficar só passa a ser a escolha mais desejável entendo que devemos ligar um sinal de alerta.
A pergunta que fica é: o que estamos perdendo? Se você concorda que somos desenvolvidos a partir de interações, a tendência é que, limitando a intimidade, nos transformemos em pessoas cada vez mais solitárias — e isso limite o nosso desenvolvimento.
Não sou especialista, mas é muito fácil que somatizemos esse comportamento e que isso se transforme numa dificuldade prática, tanto para interações quanto para crescimento pessoal. Sem trocas, acabamos limitando nosso repertório às nossas crenças e a processos prontos que o entretenimento nos dá. Ficamos menos pacientes ao contraditório. E sem intimidade perdemos a chance de sermos influenciados por pessoas próximas.
Se sua rotina é solitária, dê o primeiro passo para fora de sua bolha de conforto nesta semana, convide alguém próximo para um café, ou mesmo um almoço.
Boa semana!
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