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Fonte: Unsplash

Conversa virou coisa do passado?

Estou convencido de que estamos falando cada vez menos. Não encontrei estudos sobre isso, portanto, já adianto que esta é apenas minha opinião, baseada em observação e na minha rotina atual. Trabalho em esquema híbrido e fico quatro dias da semana em casa. Nestes dias, passo boa parte do tempo sozinho.

Tenho notado que, algumas vezes, quando estou no escritório e um colega está mais falante, acabo tentando abreviar a conversa. Outro dia, me peguei irritado com uma ligação porque a pessoa não parava de falar, e eu notei que apenas queria a objetividade de um diálogo mais curto. Nos dois casos, me assustei, pois percebi que isso ia contra uma das coisas que mais gosto: falar.

Sou apaixonado por boas conversas. Entre os apaixonados por futebol, quando falamos de times e partidas, chamamos isso de resenha, e, de fato, vários programas na televisão brasileira são boas resenhas. Sou fã do Papo de Segunda, do GNT, uma conversa que invariavelmente me faz pensar muito. Sou capaz de atravessar a cidade para almoçar com um amigo só pelo prazer do papo. Conversar é para mim a melhor diversão.

Refletindo sobre o tema para esta coluna, percebi que já faz um tempo que mudamos a forma como nos comunicamos. Hoje, mandamos textos e mensagens de áudio, mas quase nunca telefonamos e conversamos.

Quem, como eu, reduziu seu tempo no escritório também perdeu a conversa do início do dia, aquele bate-papo ao começar o expediente, o momento descontraído do café, o quebra-gelo das reuniões, quando nem todos ainda tinham chegado, e, principalmente, os almoços com o time, que sempre me divertiam muito.

Percebi que temos convivido com menos gente em nossa rotina e que temos menos oportunidades de falar. A grande questão que ficou na minha cabeça foi: o que estamos perdendo com isso?

Um dos motivos de levarmos as crianças cedo para a escola é para que aprendam a conviver com outras, elas precisam ser treinadas a se socializar. É brincando e falando que criamos laços e formamos nossas primeiras amizades. Nossa rede de apoio emocional, nossos portos seguros, são construídos nesse convívio, onde podemos falar e nos expor, sabendo que as pessoas se interessam por nossas ideias.

As novas rotinas têm criado um isolamento social. Vejo pessoas, principalmente em grandes cidades, que evitam deslocamentos devido ao estresse causado pelo trânsito, e jovens que passam boa parte da semana sozinhos. Nem sempre pensamos no impacto disso, mas a matemática simples nos mostra que estamos cada vez mais convivendo apenas com nós mesmos.

Um dos sintomas que a falta de acolhimento e os períodos de solidão geram é um risco maior de desequilíbrio emocional, além de uma tendência ao aumento da ansiedade e da depressão.

Recentemente, revi um filme para usá-lo como referência em uma palestra e fiquei profundamente impressionado. Quando assisti ao filme Ela (Her), do diretor Spike Jonze, pela primeira vez, fiquei mais atento ao impacto da tecnologia em nossas vidas. Mas, na segunda vez, percebi que ele é uma fábula moderna sobre a solidão.

No filme, que, se você ainda não viu, recomendo que veja, o personagem principal, Theodore, interpretado de forma brilhante por Joaquin Phoenix, passa quase todo o tempo sozinho – algo planejado pelo diretor para amplificar essa percepção que vivemos. Ele acaba se comunicando com uma inteligência artificial para realizar algumas tarefas e, a partir de intensas conversas, se apaixona pela voz desse programa informático.

Talvez você ache meu título exagerado, mas o fato é que somos treinados a falar e a conversar. Basta ver como os tímidos sofrem com isso. Mas, sem estímulo ao diálogo, temo que nos tornemos cada vez mais práticos e objetivos, e a consequência direta disso será a redução de vínculos e amizades.

Com a proibição do celular nas escolas, ouvi um relato curioso: um adolescente buscou a ajuda dos professores para entender como era possível, no passado, paquerar sem um aparelho celular.

Estimule as conversas. Se puder, convide seus amigos para bater um papo e, sempre que possível, deixe o celular desligado – ou, melhor ainda, bem longe de você.

Convide alguns amigos para um papo esta semana!

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Uma resposta

  1. Cara… coincidentemente falei exatamente sobre isso na minha aula de ontem a noite. E é importante notar que as plataformas digitais entregam soluções de comunicação fantásticas, rápidas, instantâneas e que podem aproximar e gerar muita interação, mas… não é bem o que vem ocorrendo. Elas estão praticamente eliminando o face a face, o boca a boca, e colocando o distanciamento digital como uma barreira de proteção nas relações pessoais. Boa perspectiva, meu amigo!

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