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Celular: nosso novo controle remoto

Quando Marshall McLuhan falou, em 1950, que os meios de comunicação não eram apenas ferramentas ou dispositivos que usamos para transmitir mensagens, mas sim extensões do nosso corpo e mente, ele não tinha conhecimento do telefone celular.

Provavelmente, sua intuição previa equipamentos assim, mas o impacto de conviver com esta tecnologia ele não conheceu. Não conheço ninguém que não tenha um aparelho celular. Deve existir, mas provavelmente é alguém apartado do mercado de trabalho ou em uma condição de vulnerabilidade.

Lembro de uma entrevista com um famoso palestrante que se vangloriava de não ter telefone, mas seu companheiro e empresário tinha; portanto, dava quase no mesmo. No entanto, já é impressionante que ele não se preocupe em interagir com outras pessoas.

Gosto do conceito de extensão do corpo, pois o celular exemplifica muito isso. Hoje vejo pessoas com ele o tempo todo. Ainda me assusta ver gente falando enquanto anda por causa do hábito do uso de fones de ouvido, mas me assusta ainda mais ver pessoas andando e teclando e muitas vezes dirigindo e interagindo com o celular.

Quando pensamos que estas extensões do nosso corpo estão moldando profundamente a forma como pensamos, sentimos e interagimos com o mundo, talvez assuste. Mas recomendo que dê um passo para trás e veja como essa ferramenta influencia sua vida. Gosto de um vídeo de Simon Sinek sobre como o celular afeta nossos relacionamentos. Basta ver que ficamos com o celular em nossas mãos e muitas vezes não conseguimos deixar de checar. Ou quando sistematicamente colocamos o celular na mesa durante um almoço. Talvez você não note, mas sinalizou a todos que o telefone é mais importante.

Às vezes penso que este texto não alcança os mais jovens. Lembro do incrível comercial que a ALMAPBBDO fez para o Dia das Mães deste ano chamado “Tormenta”, onde em uma das cenas a mãe pede para o filho largar o celular, e o menino responde: “Chega, que drama, mãe…” Às vezes é tão claro que algumas mensagens não passam. Mas quando vejo tanta gente doente ou quando vejo tanto espaço dedicado à saúde mental em um importante festival, me preocupo.

E agora são os fones. Agora o conjunto celular e fones isolam as pessoas do som a sua volta. Sim, vivemos uma epidemia de solidão, e talvez não tenhamos notado que somos nós que nos colocamos nesta opção. Quando o telefone determina nossas prioridades, perdemos o contato com o humano.

Quando era diretor de uma grande empresa, fiz um grande acordo com uma rede hoteleira chilena, e por telefone fui informado que o acordo estava encerrado. Eles tinham problemas com a falta de neve e uma temporada confusa, mas para mim o cancelamento era o fim do meu projeto de inverno. Decidi, ao final do telefonema, que iria para o Chile naquela noite, que estaria lá na manhã do dia seguinte, e assim pedi uma reunião com o diretor da empresa para meu contato.

 Tomei o avião à meia-noite daquele dia e às três da manhã estava entrando num quarto para dormir algumas horas para um café com o meu contato local antes da reunião com a direção do hotel. No começo do café, fui informado de que o acordo tinha sido retomado, e fiquei muito bravo com a profissional que me ajudava nas negociações. Foi assim que tive uma grande lição com a resposta dele. Ele me disse que o acordo só foi retomado porque eu vim para o Chile. Aprendi, assim, que é muito mais fácil romper um acordo de forma remota; pessoalmente, a conversa é diferente, o cuidado é muito maior.

Curtidas e mensagens de texto tiram a sensibilidade da emoção. Mesmo chamadas de vídeo escondem muito da percepção. Se você tem bons amigos, você sabe. Eu sei como meu melhor amigo está só pela forma como ele me dá bom dia.

Sempre que possível, desconecte-se. O celular é um equipamento incrível. Ele mudou a forma como interagimos em nossa vida, mas ele não pode ser o seu controle remoto. Cuidado! Algumas decisões podem estar deteriorando muito suas relações e, por tabela, sua saúde mental.

Eu invisto em pessoas.

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