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Aumente seu repertório: invista tempo na leitura

Vejo cada vez mais gente reclamando de conteúdos longos. Fico com a impressão de que, se não for um vídeo de um minuto, grande parte das pessoas não vai se interessar em ver. Os aplicativos que oferecem o benefício de resumir um livro em quinze minutos são um reflexo disso. Impressiona-me, de fato, alguém achar que vai conquistar conhecimento com um resumo.

Tenho amigos que me dizem para escrever textos menores. Eu resisto, pois entendo que escrevo para leitores, e leitores gostam de ler. Mas me preocupo ao ver pesquisas que mostram que o número de leitores só decresce.

A pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, realizada pelo Instituto Pró-Livro, apontou uma redução significativa no número de leitores no país. Entre 2015 e 2019, o Brasil perdeu cerca de 4,6 milhões de leitores, passando de 104,7 milhões para 100,1 milhões de pessoas que leram pelo menos um livro nos três meses anteriores à pesquisa. Isso representa uma queda de 52% para 48% da população que se considera leitora.

O ponto que mais me assustou é que a maior redução acontece entre jovens das classes de maior poder de consumo, exatamente aqueles que têm mais chance de adquirir um livro e, portanto, poderiam investir mais em leitura.

Recentemente, resolvi que não vale a pena acumular livros. Quando compro um bom livro e gosto dele, faço questão de colocá-lo em circulação. Presentear amigos ou familiares tornou-se um hábito. Para mim, hoje, um livro guardado não faz mais sentido.

Aprendi com o falecido escritor e fundador da Livraria Cultura Pedro Herz um conceito que faz todo o sentido: “Leitor é filho de leitor”. Como toda regra, há exceções, mas crianças que crescem em ambientes com acesso a livros têm grande chance de se tornarem grandes leitores.

Como todo comportamento, a leitura precisa ser incentivada, e o melhor jeito para isso é estimular a leitura nas pessoas próximas. Lembro que, intuitivamente, comecei a buscar livros que falavam sobre a carreira de grandes executivos. Acabei lendo muito sobre grandes profissionais de marketing, o que me deu a maior parte da minha formação no assunto. Por muito tempo, me considerei autodidata no marketing, até que, já bem adulto, fiz um MBA em marketing para completar meus conhecimentos.

A leitura é responsável pela minha habilidade de escrita; ela me ajudou a ter um repertório vasto. Leio pouca ficção por falta de hábito, mas gosto muito de ler sobre diversos assuntos. Nem sempre leio sobre negócios; gosto de conhecer histórias, biografias e buscar curiosidades sobre diversos temas. O esporte é algo frequente em minhas leituras, e digo isso para que você entenda que ler é importante, não importa se você lê um romance ou um livro científico.

Quando era professor em uma universidade, tinha a técnica de ler capítulos de livros em sala de aula para estimular os alunos a tomarem gosto pela leitura. Eu imaginava que, lendo os textos, eles entenderiam quanto conhecimento poderiam conquistar, mas um dia vivi uma situação muito inusitada.

Eu abri minha aula lendo um livro que gosto muito: “A Arte do Planejamento: Verdades, Mentiras e Propaganda”, de Jon Steel. Estava lendo uma história que ele conta no livro, sobre os cartazes de homens de rua, quando fui interrompido por uma aluna.

“Isso está errado, professor. Não foi o autor do livro que viveu esta história; isso aconteceu com o professor do primeiro ano da nossa faculdade.”

Eu não consegui esconder o sorriso. Parei e mostrei que estava lendo um livro que já tinha sido publicado há um bom tempo, e que provavelmente o professor do primeiro ano tinha lido e tomado a história como sua, algo muito feio.

Confesso que a aluna demorou a acreditar, mas, quando percebeu que tinha sido enganada, eu não pude deixar de brincar: “Se vocês lerem mais livros, vão perceber como as pessoas roubam ideias ou vão identificar suas referências.”

Eu sempre cito as fontes, pois entendo que citar alguém é uma forma de elogio. Mas o meu colega, o professor do primeiro ano, talvez tenha imaginado que seus alunos nunca leriam aquele livro. Infelizmente, um exemplo triste.

Volto à pergunta do título: quantos livros você leu este ano? A pergunta não é só para você. Ela é também para mim. Estou me perguntando por que percebi que estou dedicando pouco tempo à leitura, devido à forma como consumimos conteúdos hoje quase o tempo todo. Somos cada vez mais bombardeados.

Hoje, quero te vender uma ideia: estabeleça uma meta. Defina um número de livros para ler nos próximos cinco meses do ano. Não seja muito otimista, apenas comece. Tenho certeza de que isso vai mudar sua vida. Se, por acaso, você estiver lendo este texto e não tiver condições de comprar um livro, por favor, me mande uma mensagem no andradereginaldo15@gmail.com, e vou dar um jeito de te ajudar.

Invista na leitura de livros, invista no seu repertório.

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