A exposição a dispositivos móveis e a conteúdos rápidos e fragmentados gerou o conceito do comportamento multitarefa das novas gerações. A partir disso, propagaram-se hábitos como o do consumo da segunda tela, mas o que vemos principalmente é uma dependência cada vez maior por conexão.

Estudos de comportamento demonstraram que não existe eficiência no comportamento multitarefa. É pura bobagem. Por mais habilidade em tecnologia que se tenha, é impossível manter a atenção em dois lugares com eficiência ao mesmo tempo. Isso fica ainda mais claro quando vemos os dados do Denatran, que apontam que o uso de celular é a terceira maior causa de mortes no trânsito, atrás apenas do excesso de velocidade e do consumo de álcool.

Já destaquei aqui nas minhas colunas que quem está com um celular na mão ou ao alcance dos olhos está com sua atenção dividida. Aprendi num vídeo incrível de Simon Sinek, que você pode assistir no YouTube, que quem coloca o telefone na mesa durante o almoço ou numa reunião está dando um recado importante para todos à sua volta: vocês não são importantes para mim.

Ainda temos poucos estudos, mas fui impactado por um da Microsoft Canada que mostra que a duração média da atenção sustentada em tarefas simples caiu de 12 segundos para apenas 8 segundos em 2013. Esta redução de capacidade de atenção é observada em diversas faixas etárias, mas é particularmente acentuada entre os jovens. Isso se justifica pelo uso excessivo de dispositivos digitais e pela exposição constante a estímulos rápidos e fragmentados.

Recebemos mensagens e alertas sonoros o tempo todo. Nem sei mais se algumas pessoas possuem um celular ou se são seus aparelhos que possuem um humano. Infelizmente, o impacto disso é que estamos tendo nossas mentes reprogramadas.

Nosso consumo busca cada vez mais conteúdos rápidos; vejo cada vez mais gente que perde a paciência quando precisa consumir um vídeo um pouco mais longo. Já ouvi de professores que os alunos não aguentam mais uma aula de 45 minutos. Entendo que parte do problema é gerado pela difusão dos vídeos de um minuto, a partir do formato popularizado pela plataforma TikTok.

Alguém dirá que são apenas vídeos curtos inofensivos e um eficiente algoritmo, mas gostaria de acrescentar elementos que te permitam entender o que está por trás desse comportamento. O consumo de vídeos curtos gera uma gratificação quase que instantânea, num fluxo de dopamina constante que amplia o tempo dedicado a partir da combinação terrível da eficiência de seleção de vídeos relacionados pelo algoritmo e uma aparente dedicação de pouco tempo.

Parece bobo o que vou lhe dizer, mas quando você assiste 30 vídeos de um minuto, você gastou 30 minutos do seu tempo. Os vídeos são curtos, mas, quando consumidos em sequência, acabam retendo sua atenção da mesma forma. O interessante é que a gratificação imediata acaba te fazendo mais feliz, mesmo ao perceber que está perdendo tempo precioso e atenção de outras tarefas.

Em 2023, a empresa de dados App Annie relatou que o tempo médio diário que os usuários gastam no TikTok é de cerca de 52 minutos. No entanto, usuários mais jovens frequentemente passam muito mais tempo na plataforma.

Não posso deixar de relacionar um estudo da Gente/Globo chamado “Hábitos de leitura dos brasileiros” de dezembro de 2021, que mostrou que, em quatro anos, o Brasil perdeu 4,6 milhões de leitores, uma queda puxada especialmente pela classe A. Me impressiona ainda mais o fato de que são as classes de maior consumo que estão deixando de ler.

Entendo que as novas tecnologias estão reprogramando nosso padrão de consumo de conteúdos. Se você fica impaciente diante de um conteúdo mais longo, é interessante avaliar: ele é ruim ou será que você não consegue mais se concentrar?

Esse comportamento de atenção reduzida, de falta de paciência, pode te privar de acompanhar com eficiência uma aula de um curso que, em geral, leva 45 minutos, pode te fazer ter pouca paciência com um filme, algo que alguns produtores já perceberam, reduzindo a duração dos capítulos de uma série. Mas isso também pode te desanimar a consumir uma partida de futebol ou uma peça de teatro.

Outro bom exemplo de produto derivado dessa tendência é o crescimento da oferta de aplicativos que prometem que você leia um livro em 20, 15 e até 12 minutos. Basicamente, eles resumem os pontos principais da obra para você.

Diversas vezes fui aconselhado a escrever textos menores. Os profetas da eficiência sempre me apresentavam dados de que as pessoas estão lendo cada vez menos. Eu sempre os desprezei, pois escrevo para leitores. Não tenho a pretensão de conquistar pessoas que não gostam de ler. Eu simplesmente não acredito que possa fazer milagres.

Adoraria dizer que vários vídeos de um minuto vão te dar o mesmo repertório de um grande filme, ou então que um aplicativo vai te dar todos os conceitos de um livro em 12 minutos. Isso pode até funcionar para te dar boas respostas, mas eu gostaria de te ver buscando boas perguntas.

Invista seu tempo em bons conteúdos.

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