Para você que lê meus textos semanalmente, talvez seja difícil de acreditar, mas eu tive muita dificuldade na alfabetização e, por isso, passei boa parte do período escolar me escondendo, evitando o confronto, com vergonha de que os outros notassem meus erros ortográficos. Lembro das redações cheias de anotações vermelhas que me faziam sentir vergonha.
Lembro também de momentos nos primeiros anos da escola em que as lágrimas caíam no papel. Eu nunca vou entender o que minha professora da época queria ensinar. Felizmente, para mim, não lembro do seu nome nem mesmo da sua fisionomia. Ela não me ensinou nada, mas hoje sei que aquela dor me fez ser um professor.
Aos poucos, fui me acostumando com meus erros. Para alguém jovem e sem experiência, eles eram parte do processo de escrita. Mas foi então que tive a tristeza de ver minha redação ser descartada de um concurso, novamente por conta dos meus erros. A professora foi clara ao apontar os meus defeitos, mas talvez tenha esquecido que era sua a tarefa de me educar.
Passei a ter vergonha da minha escrita — algo terrível. Aprendi a sobreviver durante toda a educação formal. E, quando cheguei à faculdade, lembro que tinha muito medo das primeiras aulas de redação, pois estava certo de que não estava pronto para esse tipo de exposição. Após duas aulas, notei que me esconder agora já era muito mais fácil — e não aproveitei nada dessa disciplina. Continuava a perder oportunidades.
Quero que você lembre de coisas das quais desistiu, mas que não deveria ter desistido. Eu desisti de escrever, em parte por não entender que me ensinar a escrever bem era tarefa de alguns professores que passaram pela minha vida. Precisei amadurecer para entender que eu mesmo tinha que buscar uma solução. Poderia ter contratado um professor particular, poderia ter investido na solução do problema — mas o medo me ensinou a não enfrentar os problemas.
O medo é, muitas vezes, a razão de desistirmos de tantas coisas. Isso é próprio do medo: ele é um sentimento que nos impede de seguir. Muitas vezes, ele nos protege do perigo, mas, quando se transforma numa trava que nos impede de avançar, ele perde sua função de segurança e nos impede de viver a vida plenamente.
Conheci gente muito boa que viveu à parte de algumas coisas apenas por medo. Nunca entenderemos esses gatilhos. Mas também conheço pessoas que decidiram ir além e enfrentaram seus fantasmas.
Em alguns casos, existe a força da palavra de pessoas que convivem conosco, que nos aprisionam por toda uma vida: “Você nunca faz nada direito” ou “Você não tem talento para isso” são apenas dois exemplos de como podemos reduzir a experiência de alguém.
Como professor, aprendi que tudo pode ser ensinado. Pode ser mais difícil, levar mais tempo, mas podemos capacitar qualquer pessoa a produzir algo — se essa pessoa simplesmente quiser. E é essa motivação que nos faz acordar todos os dias às cinco da manhã; é o que nos leva a investir em treinamentos, em capacitação.
Gosto muito da animação O menino, a toupeira, a raposa e o cavalo, pois ela tem uma riqueza de experiências e reflexões de um texto incrível. Existe um trecho que amo, quando o menino pergunta ao cavalo: “Qual a coisa mais corajosa que você já disse?” E sua resposta é algo que provavelmente nunca vou esquecer: “Me ajuda.” Pedir ajuda não é desistir — é se recusar a desistir.
Lembre-se: você faz as coisas por você. Portanto, não deixe que outras pessoas roubem seus sonhos. Continue andando. Aprenda a se cercar de pessoas que, de fato, gostem de você. É fácil reconhecê-las: são aquelas que tiram sempre o melhor de você, que estão por perto independentemente da situação, que te aplaudem sem medo e, principalmente, que te apoiam quando o medo tenta te dominar.
No próximo sábado, com 57 anos, eu vou lançar meu primeiro livro. Minhas redações não puderam participar de um concurso, e eu me fechei por muitos anos — mas a história por trás deste livro me alcançou e se transformou numa grande motivação.
Foram anos escrevendo, um ano e dois meses editando, até que tive a emoção de ter meu livro impresso em minhas mãos. Hoje convivo com a incrível experiência de ver amigos e familiares lendo uma história que eu fiz. Algo que criei primeiro para mim, e acabei tendo a coragem de compartilhar com outras pessoas.
Hoje, quando eles falam de meus personagens como se fossem deles, eles me encantam. Sinto algo que não consigo transformar em palavras. Quando terminei meu livro, entendi que temos um potencial incrível. E hoje, quando pessoas me dizem que não conseguiam parar de ler meu livro, eu me emociono.
Se você ainda duvida, eu tenho um convite para você. Venha ver alguém que aprendeu a nunca desistir. No próximo dia 28 de junho, das 15h às 18h, você é meu convidado para testemunhar o lançamento do meu primeiro livro. Eu lançarei Além das Dunas, na Livraria da Vila (Rua Fradique Coutinho, 915).
Sábado que vem, eu vou celebrar com alguns amigos — parte deles, pessoas que me ajudaram a escrever esse livro. Pessoas que talvez acreditem mais em mim do que eu mesmo. Pessoas que fazem minha vida fazer sentido.
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