Sempre tive dificuldade com o discurso de algumas pessoas que dizem que repetiriam os erros que cometeram. Eu entendo: os erros me ensinaram muito, mas também foram duros comigo. Sofri bastante e, sempre que posso, procuro aprender com eles justamente para não repetir os mesmos enganos.
Aprendi com meu querido amigo Adão Casares, que faz aniversário nesta semana, como podemos transformar nossas equipes de trabalho com a adoção de uma técnica simples de avaliação de resultados. Na Lew’Lara, quando ele fazia parte do grupo que trabalhava nas concorrências, essa técnica se chamava “cadeira quente”. Sempre ao final de uma concorrência, o time envolvido se reunia para uma avaliação 360º, sem egos. O trabalho de cada um era avaliado não para encontrar culpados, mas para promover a evolução do time. Acho isso perfeito.
Lembro de uma frase que teve muito impacto sobre minha visão da tolerância ao erro e mudou a maneira como encaro essa questão. Um gestor olhou para o time e disse: “É natural termos 5% de erro nos nossos processos, mas, se nossa empresa fosse uma maternidade, estaríamos derrubando um bebê no chão por mês. E, ainda assim, estaríamos olhando para os 95% de bons resultados.”
Nessa linha, quero te recomendar a leitura de Criatividade S.A.: Superando as forças invisíveis que ficam no caminho da verdadeira inspiração, de Ed Catmull, ex-presidente da Pixar Animation, publicado pela Editora Rocco. Ele conta que todo filme de animação, no início, é como um bebê feio que precisa de muito trabalho, orientação e ajustes para se transformar em sucessos como Toy Story, Monstros S.A. ou Procurando Nemo. Na Pixar, eles tinham um formato de reunião de avaliação chamado “Banco de Cérebros”. A diferença entre o processo da Lew’Lara e o da Pixar é que, no estúdio de animação, esse formato é usado regularmente durante todo o desenvolvimento do filme. A equipe de produção reúne trechos do filme, esboços, storyboards e roteiros para apresentar a um time de mentes criativas da companhia, que oferece feedback sobre as ideias. Esse é um dos segredos da Pixar para fazer a inovação florescer: a visão de profissionais experientes que, naquele momento, estão distantes do processo criativo.

Na WarnerMedia, usávamos um formato chamado post-mortem (expressão em latim que significa “pós-morte”) para avaliar nossos maiores projetos. Quando isso é feito sem medo e sem vaidade, aprendemos a analisar erros e acertos, criando rotinas mais eficientes. Para mim, isso é a base do sucesso de muitas operações.
Tenho estudado esse tema há algum tempo e aprendi que, se temos uma aviação cada vez mais segura, isso se deve ao cuidado que esse setor tem em aprender com seus erros. A maioria dos grandes acidentes é levada para simuladores, para que os pilotos em treinamento possam enfrentar situações de risco e estejam preparados para desafios na rotina de voos.
Talvez por isso eu não goste de quem afirma que repetiria seus erros, mas reconheço que só sou o profissional que sou por conta dos erros que cometi na minha carreira. De fato, eles fazem parte de mim, mas aprendi a aprender com eles. Tenho a convicção de que o acerto ensina pouco, mas os erros, sim, esses nos tornam muito melhores.
Sucesso na carreira.
Gostou do conteúdo? Acesse nossa home e veja mais.
Acompanhe também nosso perfil nas mídias sociais.