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Fonte: Reprodução Click do Alê, Propmark

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Sou publicitário por causa de Washington Olivetto…

Eu me lembro da primeira vez que vi Washington Olivetto. Era 1986, e eu, estudante de comunicação, ainda na faculdade, tive a chance de assistir a uma palestra sua num evento promovido pelo Propmark. Esse evento tinha algo muito especial: os mesmos palestrantes que falavam para os profissionais à noite também falavam para estudantes à tarde, com ingressos a preços bem acessíveis. Foi assim que eu ouvi, pela primeira vez, a palestra do Washington.

Eu sabia pouco sobre ele, mas fiquei encantado. Tornei-me fã e percebi que, mesmo sem conhecê-lo, ele já fazia parte da minha vida. Ele mostrou seus últimos comerciais, e eu reconheci muitos trabalhos que me haviam inspirado a seguir a carreira publicitária. Descobri ali que ele era uma das minhas maiores influências na propaganda.

Em pouco mais de 50 minutos, ele exibiu uma série de filmes publicitários, e minha carreira mudou. Se eu tinha alguma dúvida sobre minha vocação, ela se dissipou ali. Ele mostrou seus comerciais preferidos e alguns de outros publicitários, ensinando-me a importância das boas referências.

Nessa palestra, ele falou sobre o publicitário americano George Lois, que chegou a se posicionar no parapeito de uma janela em Nova York para aprovar uma campanha. Essa história me levou a ler “Qual é a Grande Ideia?”, livro de Lois, e a entender que há muita estratégia envolvida na venda de uma campanha. Comecei ali minha carreira de “vendedor de ideias”, abençoado e inspirado por Washington.

Com o tempo, percebi que o que mais me encantava no trabalho de Washington era sua capacidade de unir simplicidade e clareza, uma comunicação redonda, fácil de entender e que conquistava pela essência de um texto incrível.

Se você não entende o que estou dizendo, recomendo assistir ao filme “A Semana”. Em apenas três minutos, ele apresenta a revista Época, lançada pela Globo. Washington e seu time da W/Brasil detalham o universo por trás dos sete dias da semana e seu impacto na vida de cada ser. O texto brilhante fala dos sete dias que, para a história, são nada e, para a Época*, são tudo. O filme, que ganhou o Leão de Ouro em Cannes em 2000, é transformador.

Outro exemplo é o Garoto Bombril, interpretado por Carlos Moreno. A ousadia de Washington, ainda na DPZ, ao propor um filme para um produto de limpeza estrelado por um homem foi revolucionária. Na época, os comerciais de produtos de limpeza eram sempre protagonizados por mulheres. O Garoto Bombril fez história por romper paradigmas e permanecer no ar por tantos anos. Comunicação boa, simples e direta.

Washington nos acostumou a ótimos comerciais; ele fez muitos não-publicitários gostarem de propaganda. Transformou a interrupção num espetáculo.

Ele sempre soube que estamos aqui para vender, mas, numa das primeiras vezes em que estive na W/Brasil, vi como expunham seus prêmios de maneira diferente. Em cada andar havia uma vitrine de vidro, onde os prêmios eram empilhados de forma aleatória, mas não banal. O impacto visual era impressionante, pois algumas vitrines estavam cheias e outras ainda sendo preenchidas. Esse gesto simples me ensinou que os prêmios são importantes, mas não devem ser nossa busca; são consequência do bom trabalho.

Anos depois, tive a chance de me apresentar a Washington num evento da W/Brasil. Fui até ele e disse que eu era publicitário por causa do seu trabalho. Ele ficou sem graça e agradeceu, mas fiquei feliz por ter tido essa oportunidade. Nestes dias, li nas postagens de muitos amigos o mesmo texto: “Eu sou publicitário por causa de Washington Olivetto.” Isso é o que chamamos de legado. É isso que ficará para sempre em nossos corações. Descanse em paz, querido mestre. Perdemos você muito cedo.

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