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Fonte: Divulgação

Pensar fora da caixa é fácil, difícil é pensar fora da bolha

Dias atrás, estive em uma convenção global de um cliente no México com mais de mil pessoas de 33 países, que usavam crachás de diferentes cores representando os departamentos da companhia. Estou mais acostumado a frequentar, ultimamente online, festivais de publicidade e encontros da indústria criativa. A experiência que tive ao participar de um evento do mundo corporativo em Acapulco só reforçou a minha certeza de que aprendemos muito mais fora da nossa bolha.

Claro que é mais fácil falar do que fazer e as bolhas são difíceis de enxergar. No início da década passada, Eli Pariser popularizou o termo filter bubbles ao criticar os rumos que a internet estava tomando, iniciava-se a era das bolhas digitais. Se anteriormente, um portal servia para explorar livremente o mundo, a partir de então, a rede estava sendo dominada pelos algoritmos, com o auxílio de editores robôs, que fazem chegar até você somente o que entendem como relevante baseados no seu comportamento, localização geográfica e outros dados. Nessa nova fase, o que é urgente se sobrepõe ao que é importante, diferentes pontos de vista são apresentados provocando reflexão e algumas vezes até desconforto.

De lá pra cá, os algoritmos e as bolhas digitais se disseminaram e ficaram mais sofisticados. Não temos mais só Facebook e Google, temos Netflix, Amazon, WhatsApp e TikTok. Nesse meio tempo, tivemos a pandemia, o isolamento e a consequente popularização do trabalho remoto. O home office pode ser ótimo em muitos aspectos, mas fortalece ainda mais a rede de contato de interesses mútuos. Não só porque ficamos mais sujeitos aos filtros do ambiente digital, mas porque perdemos muito das relações inerentes ao convívio presencial, das conexões aleatórias no escritório, da camada social da nossa vida profissional. Assim como na Internet dos algoritmos, nos comportamos de maneira mais funcional, a partir daquilo que entendemos ter mais relevância imediata. Marcamos uma videochamada, resolvemos o que tem que ser resolvido e desligamos a câmera. Perdemos o contato com pessoas que não estão envolvidas nos nossos projetos prioritários. Não dá tempo, tem muita coisa pra fazer.

Voltando ao México, lá eu pude circular por diferentes conteúdos e interagir com pessoas diversas. Assisti palestras e cases de outras áreas e países e prestei atenção naquilo que um algoritmo não consideraria relevante para mim. Descobri a sofisticação que existe na área de vendas dos mexicanos, mergulhei na tecnologia impressionante do setor de desenvolvimento de produtos dos indianos, conheci o design de embalagens e o rico storytelling colombiano, testemunhei o pensamento criativo nos negócios em tantos outros países. Saí do Brasil, da bolha do marketing, da criatividade publicitária e dos seus festivais.

Mais uma vez, vi se confirmar o clichê de que para encontrar soluções novas, precisamos procurar em lugares diferentes. Como diz Steven Johnson, autor do best-seller “De onde vêm as boas ideias”, a gente aprende porque interage, observa e transmite nossas experiências. Conversar com pessoas de outros departamentos, que estão engajadas em outros desafios, permite compreender melhor a diversidade de visões e desafios dentro da engrenagem de um negócio. Depois de tanto tempo de isolamento, resgatar práticas de colaboração, relacionamento e trocas nos ajuda não só a ter boas ideias, mas a ter boas ideias que resolvam os problemas certos. Afinal, pensar fora da caixa já estamos acostumados, mas pensar fora da bolha precisa ser um exercício constante para desenvolver a nossa criatividade.

Zé Pedro Paz

CCO da DZ Estúdio

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