Hoje percebo pessoas concentradas o tempo inteiro. Presas a pequenos pedaços de vidro e ferro forjado, retângulos luminosos que vivem de nossa interação. Neles se fixam, e o entorno desaparece.
Não me sinto entre eles. Aliás, me obrigo a manter certo distanciamento. Gosto da conexão, mas entendo que a distração também me faz bem. As pessoas ao meu lado parecem felizes, atentas, conectadas. Não podem se dar ao luxo das pausas.
A conexão nos trouxe uma nova dimensão de realidade. Quase tudo acontece em tempo real. Estamos tão próximos, às vezes a um clique, mas a sensação final é de distância. O virtual criou interfaces que falam por nós. Evitam o contato direto e erguem uma barreira que gera uma falsa sensação de proximidade.
A conexão não é ruim. Foi, inclusive, uma mensagem em vídeo que recebi esta semana do meu querido amigo Claudio Carminholi que me tocou, me fez reenviar a outros amigos e inspirou este texto.
No vídeo, uma entrevista de Rubem Alves no programa Provoca, da TV Cultura, quando ainda era apresentado por Abujamra em 2011. O teólogo fala sobre alegria e sua diferença em relação à felicidade.
Rubem cita Guimarães Rosa: “alegria só em raros momentos de distração”, um trecho de Grande Sertão: Veredas. Ele nos lembra que felicidade é um conceito muito grande, algo que nem sempre nos alcança. Já a alegria é mais constante, mais presente. O problema é que muitas vezes não percebemos esses momentos.
A alegria está em pequenas frações da vida. Em distrações, em instantes em que quase não prestamos atenção. Ela nunca vem nas grandes coisas, mas nos detalhes. Repetem-se diante de nós, mas nem sempre damos o cuidado e a atenção que merecem.
Muitas vezes só depois, quando o instante passou, é que percebemos a sorte de estar em certos lugares, de conhecer algumas pessoas, de viver.
Se puder, pense em um dia feliz. O que seria um dia perfeito para você hoje? Aposto que seriam coisas simples. Em essência, oportunidades de estar com pessoas que amamos.
Conectados, perdemos parte da vida que passa apressada diante de nós. Distraia-se. Olhe para as pessoas, para o movimento dos carros, para um fim de tarde. Redescubra a beleza das coisas que trazem alegria. Aposto que serão momentos simples do seu dia.
Desconecte-se. Se puder, ouça alguém por alguns minutos. Sua atenção é o maior presente que pode oferecer em um mundo em que todos parecem disputar sua atenção. Nestes momentos não há pressa. A vida acontece assim: em distrações simples que ganham significado.
Talvez eu esteja chato, falando tanto disso. Mas tenho praticado. Tenho tido boas conversas com amigos queridos, reservado tempo para encontros presenciais, e esse tempo tem me dado muito sentido.
Desejo que você se distraia um pouco mais nesta semana.
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