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Fonte: Kevin Mazur/Getty Images

O sucesso de Ainda Estou Aqui e o quão longe ainda dá pra ir

Fernanda Torres acaba de ganhar como melhor atriz em filme de drama o Globo de Ouro (prêmio que inicia a temporada de premiações de 2025) por seu papel como Eunice Paiva em Ainda Estou Aqui. A corrida se encerra no Oscar, dia 2 de março. O brasileiro sonha com o prêmio há tempos, sofrendo duras decepções, principalmente com Central do Brasil (1998) e Cidade de Deus (2002), duas das maiores chances que o cinema nacional já teve na premiação.

Enquanto Cidade de Deus acabou disputando o prêmio mais de um ano após seu lançamento, perdendo muito de seu impacto no caminho, muitos ainda têm dificuldades de superar a derrota de Fernanda Montenegro para Gwyneth Paltrow no prêmio de melhor atriz no Oscar de 1999. Acontece que Fernanda estava disputando uma batalha muito difícil na época. Como já foi explorado por aqui, a campanha de marketing de um filme pode aumentar ou diminuir expressivamente suas chances de ser premiado, uma vez que, para isso, precisa ser visto.

O mercado brasileiro, historicamente, assiste a poucos filmes nacionais. Apesar de um aumento de quase 100% entre 2023 e 2024, indo de 3,72 milhões de espectadores para 7,37 milhões em 2024. Isso, contudo, representa apenas 9,4% do público que foi ao cinema em 2024 no Brasil. Para contornar essa desconfiança, a produção de Ainda Estou Aqui inicia sua campanha sendo lançado no Festival de Veneza, em setembro, e consegue levar o público a lágrimas. Ainda antes da estreia oficial no Brasil, foi exibido também no Festival Internacional de Cinema de Toronto, o Festival de Cinema de Nova Iorque e o Festival de Cinema de Londres antes de chegar ao Festival do Rio e à Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. O filme então já chega aos cinemas comerciais no Brasil, em novembro de 2024, com um nome e boa reputação, por ter circulado tão bem no circuito de festivais. Enquanto boa parte das produções nacionais já se daria por satisfeita com o potencial de bilheteria que se apresentava, o verdadeiro objetivo era um pouco mais difícil de alcançar.

As ambições para o filme sempre foram altas, o que é evidenciado pelo lançamento. Quando se pretende disputar o Oscar, a data de lançamento costuma ser no fim do ano, para que ele ainda esteja fresco na cabeça dos votantes e assim consiga aumentar suas chances. E como, principalmente, Fernanda Torres está dizendo, “o importante é o filme ser visto!”. E de fato ela tem muita razão, no final das contas, a importância desse tipo de premiação é valorizar o produto, levar o cinema brasileiro mais longe. E é nisso que a estratégia de marketing de Ainda Estou Aqui aposta. No final das contas, como citado antes, em 1999 o candidato brasileiro enfrentava ferrenha concorrência. E a referência não se limita apenas ao filme A Vida é Bela, mas havia um adversário muito forte: Harvey Weinstein. O ex-produtor mais safo do mercado americano era quem detinha os direitos para distribuir tanto o filme italiano quanto Shakespeare Apaixonado. Com orçamentos muito maiores (US$ 25.000,00 para o filme americano e US$ 20.000,00 para o italiano, contra os US$ 2.900,00 do brasileiro), era muito mais fácil fazer o público votante na academia assistir aos filmes.

Aliás, a história da derrota de Fernanda Montenegro para Gwyneth Paltrow, tão conhecida pelos brasileiros cinéfilos, também foi contada lá fora, em matéria do The New York Times, o que ajuda a gerar empatia e uma narrativa mais interessante para pavimentar uma possível indicação de sua filha ao Oscar. Além da campanha do filme em si, vimos, ontem, o primeiro sinal positivo. Apesar de ser a única nomeada em um filme que não tem uma palavra em inglês, Fernanda Torres venceu outras peso-pesado de Hollywood, ganhando melhor atriz em um filme de drama no Globo de Ouro. O único vencedor de Globo de Ouro deixou de ser indicado ao Oscar foi Jim Carrey, que venceu por O Show de Truman e O Mundo de Andy em dois anos seguidos, sendo esnobado pela Academia em ambos.

As chances de termos uma indicada como melhor atriz são bem altas. Todo o trabalho e investimento em divulgação, com o elenco incansavelmente comparecendo a festivais e a exibições especiais com sessões de perguntas e respostas. Diferentemente de Central do Brasil, que focou seus esforços nos Estados Unidos, o elenco e equipe de Ainda Estou Aqui estão precisando fazer um verdadeiro zigue-zague pelo Atlântico (nas palavras da própria Fernanda Torres) uma vez que hoje a academia está muito mais diversa, com vários membros pela Europa, Ásia e América Latina também.

Nos resta aguardar e torcer pelo sucesso do filme, que estreia nos EUA dia 17 de janeiro, mesma data de anúncio dos indicados ao Oscar deste ano. Ainda Estou Aqui foi a maior bilheteria brasileira em 2024, arrecadando, até o dia 24 de dezembro, segundo levantamento da CNN Brasil, R$ 62.700,00, uma Osella de Ouro de Melhor Roteiro no Festival de Veneza, uma indicação a melhor filme estrangeiro e um prêmio de melhor atriz em filme dramático com Fernanda Torres no Globo de Ouro. Quão mais longe será que conseguimos chegar?

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