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Fake News, não são “Fakes” e nem “News”, diz pesquisa

“Se a mentira fosse apenas a negação da verdade, então este seria um dos modos, por negação, de provar a realidade. Mas a pior mentira é a mentira criadora. ” Clarice Lispector (2004).

Comecei esse texto citando Clarice Lispector propositalmente. Uma grande autora que, juntamente com Cora Coralina e Carlos Drummond de Andrade, podem ter sido “vítimas culturais” dos princípios das “Fake News”, principalmente nas redes sociais. Ou vai dizer que nunca viu frases de impacto somadas a belas fotos (normalmente na natureza em pose reflexiva) com autoria atribuída a um dos autores citados, não necessariamente sendo deles?

É isso! E isso nos dá uma pista para desvendar e não cair no conto do vigário. Seguindo a mesma lógica as Fake News podem tentar pegar a credibilidade de alguma personalidade, instituto de pesquisa ou marca “emprestada”. E, não necessariamente pessoas famosas, utilizam de pessoas comuns, inclusive para depoimentos de produtos utilizando como prova social em argumentação de venda.

Como dito na citação no início do texto, a pior mentira é a criadora, esse pode ser o pior dos problemas das Fake News, que após ser disseminada em massa pode passar a ser tida como verdade. Eis que temos aí outros problemas que, inclusive, podem se tornar solução: a leitura crítica e os títulos sensacionalistas. Estamos em um período grande ascensão do mercado digital e, nós da área de comunicação principalmente, sabemos que cliques são importantes para as métricas, e nada como um bom título para chamar atenção (ou uma boa “copy” como está na moda dizer). Portanto alguns portais podem exagerar nesse título, deixando informações duvidosas com a finalidade de atrair o usuário para ler a mensagem… que muitas vezes não leem, pelo menos não antes de compartilhar. Enquanto outros são apenas portais de humor, satirizando situações.

No título desse artigo citei que as “Fake News” não são “Fakes” e nem “News”, e intuito não foi negar a falsidade da ação, mas reforçar aqui que a falsidade é intencional e, pior, é muito bem pensada e usada com estratégia. Se partirmos da ideia que o escritor da “Fake News” sabe que está distorcendo fatos com o propósito de confundir o interlocutor da mensagem, ou até mesmo para atrair mais cliques para o link, ou amentar conversão em uma página de venda… isso nunca será uma notícia, e essa prática, ao meu ver, antiética (para não dizer criminosa) não é nenhuma novidade.

Bom, não dá para falar de Fake News sem falar sobre política. A novidade em questão é a escala, proporção e velocidade que as notícias falsas e ataques pessoais ganham com as ferramentas digitais. De acordo com matéria publicada no Meio & Mensagem, o Facebook tem sido pressionado por grandes anunciantes, em campanha intitulada de #StopHateForProfit, para que otimize as políticas de restrição à publicação de discursos de ódio e conteúdo nocivo na plataformas. Como resultado dessa ação foram derrubas contas do Brasil, Canadá, Equador, Ucrânia e Estados Unidos. No Brasil foram 73 contas ligadas aos gabinetes do presidente e família.

Na minha opinião estamos vivendo uma guerra ideológica velada e que para muitos não importam se a notícia é falsa, desde que represente em parte ou em totalidade a forma com que pensa sobre determinados assuntos. Enquanto as marcas e pessoas públicas timidamente começam a se posicionar sobre questões sociais, as pessoas “comuns” ferozmente estão se posicionando, inclusive de maneira desrespeitosa. As pessoas querem e estão gritando suas “verdades”. 

Opiniões estão cada vez mais escancaradas sem nem ao menos saber se tinha alguém interessado em ouvi-la, essa é a minha opinião.

 

P.S: Me solidarizo com os historiadores e professores que escreverão e ensinarão sobre meados de 2020.

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