Creativosbr

“Com o erro não há compromisso”, diz Nizan

Eu já escutei, algumas vezes, do próprio Nizan Guanaes, essa frase que está no título acima.

E hoje, ao ler a coluna do Nizan, na Folha de S. Paulo me deparei com a frase, que segundo ele é de Juscelino, mas que usa sempre que necessário.

Mas você deve estar se perguntando por que teria ele dito isso na coluna dele hoje? Vou explicar!

Na semana passada, o Blog do Crespo publicou um post em que relatava a busca de Nizan por uma cozinheira em sua coluna na Folha de S. Paulo.

Mais do que isso, o post contva sobre a repercussão que teve sua coluna, com críticas inclusive feitas por outros colunistas da Folha.

A repercussão foi além e durou quase que uma semana inteira.

Hoje, Nizan resolveu fazer um pedido de desculpas público por conta de sua coluna.

Ao meu ver, conseguiu ser aina melhor que a coluna publicada na semana passada.

Leia a íntegra da coluna publicada na Folha hoje.

 

 

"Errei
 
Juscelino dizia que com erro não há compromisso. E como sei que
comunicação não é o que a gente diz, é o que os outros entendem, se a
minha coluna anterior, "Procura-se uma boa cozinheira", deu ruído,
errei. Porque, querendo me comunicar, não me fiz entender.
 
Não sou preconceituoso, trabalho na pauta do Brasil moderno, vibro
com os seus avanços sociais, sobretudo das mulheres e das classes mais
pobres de onde vim.
 
Luto pela educação, pelo empreendedorismo. Respeito e valorizo
todo tipo de trabalho. E quis tão somente escrever um artigo lúdico,
leve, para ser lido em feriado -era o 15 de novembro, em comemoração
pela Proclamação da República.
 
Meu artigo tinha a pretensão de dar um exemplo sobre como os
anúncios publicitários nasceram, a partir dos anúncios classificados dos
jornais, e que requisitos esses bons anúncios devem ter: título
chamativo, objetividade, ser vendedor e ter clareza de propósito.
 
Algumas pessoas entenderam o que o anúncio procurava. Recebi
centenas de mensagens. A integração com a internet funcionou bem. Minha
caixa de e-mails ficou cheia com respostas incríveis de todos os cantos
do Brasil.
 
O ruído começa -se aprendi algo com esse episódio- na distinção
clara entre a natureza do anúncio e a natureza do artigo, como bem
ponderou a Danuza Leão em seu comentário nesta Folha.
 
O anúncio tem de ser objetivo, mas o artigo, e aí estou usando o
chapéu de colunista, tem de estar atento às subjetividades que Fernando
Rodrigues quis me chamar a atenção na sua coluna. É preciso estar atento
não só ao texto, mas aos subtextos aos quais devo e prestarei mais
atenção.
 
Na semana seguinte à da publicação do artigo-anúncio, que
funcionou como anúncio e foi discutido como artigo, pude acompanhar o
impacto e o peso que tem o jornal pelo Brasil. E é incrível.
 
Por conta da minha profissão, acompanho de perto os avanços da
mídia digital. Mas desconfio que estejamos medindo internet e jornal com
pesos e medidas diferentes. Misturando artigo e anúncio como não se
deve misturar.
 
Um "banner" pode ter (hoje) mais "clicks" ou "pageviews" do que um
anúncio no jornal. Mas "view" e "point of view" são coisas bem
diferentes. Há uma diferença entre o impacto que tem o "banner" e o que
tem o anúncio impresso. É verdade que não está na moda dizer isso.
Aliás, há quem diga que a mídia impressa estaria fora de moda.
 
Mas nesta semana em que estive no Recife, no Rio de Janeiro, em
Salvador e em São Paulo, recebendo currículos de cozinheiras, livros de
culinária, vi e senti a força física do peso do jornal e como ele se
potencializa quando cruzado beneficamente com a internet.
 
Acho, portanto, que aqui também devemos separar claramente as
coisas entre o visitante na internet e o leitor do impresso. Os anúncios
"on" e "off-line", no número frio que o analista de mídia das agências
de propaganda lê, podem ser iguais e comparáveis pela régua da
matemática. Na experiência prática, não. Como todo jornalista sabe, o
"off" pode ser muito melhor que o "on".
 
Quem escreve em jornal e depois vai escrever só no on-line sente
falta daquele componente que reverbera no vizinho no elevador e na gente
que vem falar na mesa do bar. Esse é o contato, físico, com o leitor.
 
É como quando fico só mandando torpedos para minha mulher e não
ligo para ela, achando que é igual. Mas a impressão da voz é bem
diferente da do texto do torpedo.
 
Portanto, este é um mundo de textos, subtextos e contextos. E ele
exige de nós diferentes cabeças tendo apenas uma mesma cabeça. Isso pode
nos paralisar com medo de errar. E erraremos. Ou ficaremos tentados a
ser mornos, esterilizados para não errar.
 
O futuro e o jornal do futuro são feitos de tentativas, de acertos
e de erros. É um bicho de muitas cabeças, mas não podemos deixar que
vire bicho de sete cabeças.
 
É mais fácil errar rápido do que querermos, num mundo complexo como este, viver sem errar.
 
Afinal, como diz o velho samba, "perdão foi feito pra gente pedir".

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *