Já te contei que comecei minha carreira na área de mídia na propaganda. Na época, sem grana para estagiar, precisei correr atrás de um emprego numa pequena agência chamada Brain Comunicação. O interessante é que a indicação veio do pai de uma ex-namorada, provavelmente a recomendação mais valiosa da minha carreira. Portanto, fica a primeira dica: converse com todas as pessoas ao seu redor que tenham alguma ligação com o mercado publicitário; isso pode fazer toda a diferença. Use sua experiência, faça networking e, acima de tudo, tenha cara de pau.
Meu primeiro chefe foi Jorge Silva, meu gerente de mídia, que me deu a primeira chance e orientou meus primeiros passos no mercado. Para entender o poder do networking, ele também me indicou para o meu segundo emprego na propaganda.
Trabalhei na Brain Comunicação por cerca de um ano, e em boa parte desse tempo, cuidei do departamento de mídia sozinho, já que Jorge pediu demissão após seis meses. Assumi suas responsabilidades, autorizando pequenos anúncios em jornais, mas também gerenciei uma campanha para um importante restaurante japonês e fiz uma campanha em revistas da Editora Abril.
Na época, eu me sentia bastante confiante, afinal, em terra de cego, quem tem um olho é rei. No entanto, com o tempo, percebi que em terra de cego, quem tem um olho é, na verdade, caolho. Não percebia que, sem referências e feedback, não estava aprendendo tanto quanto achava.
A única coisa boa no emprego era o constante contato com veículos, o que se tornou a base do meu networking e aprimoramento profissional. Foi assim que fechei uma campanha na Globo para um cliente especial, as Óticas MITANI.
Com o tempo, comecei a entender melhor as agências de propaganda do mercado. Ao descobrir um anuário de propaganda na agência, obtive os endereços das principais agências de São Paulo. Com um currículo em mãos, fruto da minha pequena experiência, enviei para diversas agências. Recebi um telefonema de uma profissional de mídia de uma grande agência, a Publicis Norton, que atendia, entre outras contas, a Nestlé.
A entrevista foi na Rua General Jardim, e, apesar de saber que a Publicis era uma grande agência, eu não tinha muita informação sobre ela. A gerente de mídia foi receptiva, mas a proposta era para ser auxiliar de mídia, o que não me agradou, pois já atuava como assistente de mídia na minha agência anterior.
Minha ideia, totalmente infundada, foi que, se como assistente eu montava o pedido de inserção, o auxiliar de mídia deveria ser quem levava o anúncio até os veículos. Argumentei que já tinha experiência nessa função e não queria retroceder. A gerente foi firme ao perguntar se eu achava que sabia mais do que seus assistentes. Respondi prontamente que não sabia se sabia mais, mas tinha certeza de que sabia tanto quanto eles.
Curiosamente, a entrevista se concentrou na discussão entre ser auxiliar ou assistente de mídia. Não perguntei sobre o salário; a questão era o cargo. O problema é que a Publicis ficava próxima à minha faculdade, a uma distância a pé, mas eu não tinha experiência e, pior ainda, não tinha conselheiros para me orientar.
Na Publicis, trabalharia com grandes contas, aprenderia mais sobre pesquisa, entenderia como fazer um planejamento de mídia e entraria no universo das grandes agências. Tenho certeza de que teria sido um salto na carreira, mas o ignorante aqui não se preparou para a entrevista e não buscou orientação.
É desafiador quando você é o primeiro da família a ingressar na propaganda. Não temos referências, e eu sequer sabia muito sobre a Publicis, desconhecendo sua importância. Hoje, com a internet, temos informações ao alcance de um clique, mas meu conselho é: tenha um mentor. Eu poderia ter ligado para Jorge, meu primeiro chefe, que com certeza teria me aconselhado a aceitar o cargo de auxiliar de mídia, mesmo ganhando menos. No entanto, o ignorante muitas vezes é prepotente.
Lembro-me da última pergunta da gerente de mídia: “Então, você realmente não quer trabalhar comigo como auxiliar de mídia?” E o tolo aqui disse não. Não recordo exatamente quem foi a profissional de mídia que me entrevistou, mas por muito tempo acreditei que fosse a querida Alice Orlando, com quem mais tarde me tornei amigo. Alice, se você se lembrar dessa história, saiba que fui eu quem perdeu essa chance.
Dicas rápidas: 1. Aproveite todos os contatos na propaganda; 2. Tenha um mentor; bons conselhos fazem toda a diferença; 3. Pesquise sobre a empresa onde fará a entrevista nos veículos do trade e na internet; isso fará toda a diferença.
Felizmente, minha carreira tomou outro rumo, mas isso é assunto para outro texto.
Sucesso na sua carreira!
Gostou do conteúdo? Acesse nossa home e veja mais.
Acompanhe também nosso perfil nas mídias sociais.