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Ferrari: uma marca ou um mito

Uma história que começa em 1919, quando Enzo Ferrari era piloto, primeiro da CMN e depois da Alfa Romeo. Importante dizer que ele não conquistou grandes campeonatos — seu maior título foi a Copa Acerbo de 192 —, mas ficou conhecido por ter criado a mais famosa equipe de automobilismo do mundo.

A Ferrari é um símbolo, um mito, um patrimônio da Itália, uma devoção e um negócio impressionante. A empresa nasceu como equipe de corrida: em 1929, Enzo Ferrari criou a Scuderia Ferrari e, só 18 anos depois, em 1947, fundou a fábrica que se transformaria em uma das marcas de luxo mais famosas do mundo.

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Talvez você não entenda o fascínio, mas me lembro bem da primeira vez que vi um automóvel da marca Ferrari: um modelo preto, conversível. Eu estava caminhando pela avenida Faria Lima, em São Paulo, quando o carro parou em um semáforo. A impressão que tive é que todos pararam para olhar aquela máquina. E me impressionou o fato de o proprietário não parecer se importar com o movimento que se criava ao redor de seu automóvel. Quando ele voltou a acelerar, o ronco do motor  transformou aquele momento numa memória inesquecível.

Essa cena traz toda a identidade de um carro de alto luxo, mas é importante destacar a força da construção dessa marca. A competição é parte integrante do DNA da Ferrari. Afinal, são 16 títulos de construtores — a maior vencedora da história da F1 até aqui. São 1.100 grandes prêmios disputados, a única equipe presente em todas as temporadas desde 1950, com 243 vitórias, 259 pole positions e mais de 830 pódios.

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Quando analisamos a marca isolada, é natural que ela não nos encante apenas pelo design. Ao contrário, ela é bastante simples, com traços de pouco refinamento. Se não tivesse a força da história que tem, é bem provável que alguém cogitasse o sacrilégio de propor um rebranding.

Vejo sempre com ressalvas as tendências de modernização de marcas na tentativa de buscar adequação aos novos tempos. Penso que uma identidade bem construída convive com o tempo e mantém sua força. Prova disso é que essa marca mudou muito pouco ao longo dos anos. O conceito se mantém praticamente intocável desde 1932, com pequenas alterações e um design que nunca foi radicalmente alterado.

Gosto de estudar marcas em conjunto com a história das empresas e de seus fundadores. A Ferrari nasceu como um negócio nas pistas: um piloto que monta uma equipe de corrida. Esta é sua essência e sua força.

Destaco toda a carga semiótica por trás do logo. O símbolo do cavalo empinado preto, o Cavallino Rampante, é anterior à equipe. Era o emblema do piloto italiano Francesco Baracca, herói da Primeira Guerra Mundial, que pintava o cavalo em seu avião de combate. Em 1923, os pais de Baracca sugeriram que Enzo Ferrari usasse o cavalo como símbolo de sorte em seus carros de corrida. Ele, além de trazer a figura do herói italiano, também demonstra força, movimento e velocidade.

Enzo aceitou a ideia e incorporou elementos: adicionou um fundo amarelo, em homenagem à cor da cidade de Módena, onde nasceu. Ao contrário do que muitos imaginam, o amarelo é a cor oficial da empresa. Além disso, aplicou as iniciais “S F”, de Scuderia Ferrari, e no topo da marca as faixas verde, branca e vermelha. Estava criada a marca que conhecemos hoje.

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O logo incorpora a identidade local, mas também faz referência ao orgulho nacional, sendo um dos patrimônios da Itália, com torcedores em todo o mundo: os Tifosi, como são conhecidos, no significado literal “os que têm febre”, a ideia de uma paixão intensa, quase doentia. O nome foi primeiro dado aos torcedores de futebol e depois migrou para o automobilismo.

A partir da produção dos carros, o Cavallino Rampante prateado também passou a integrar as traseiras, acompanhado da palavra Ferrari escrita em uma tipografia especialmente concebida, com o “F” projetando-se sobre as outras letras, dando força e unidade.

Arrisco dizer que este é um dos logos mais conhecidos do mundo. É difícil que alguém não saiba do que se trata quando vê o cavalo empinado nessa combinação simples. Isolados, os elementos não trazem grande força semântica, mas juntos carregam a história de muitas conquistas de grandes pilotos.

O tradicional vermelho (Rosso Corsa) é uma herança direta das corridas. Nas décadas de 1920 e 1930, cada país tinha uma cor oficial definida pela AIACR (antecessora da FIA), e a da Itália era o vermelho. Assim, todos os carros italianos competiam nessa cor, e a Ferrari acabou identificada para sempre com ela. Curiosamente, para Enzo Ferrari a cor oficial da marca era o amarelo, em homenagem à sua cidade natal, Módena. Mas com o tempo, o vermelho tornou-se a marca registrada da Ferrari. Hoje, a maioria dos carros vendidos é dessa cor, e sempre que pensamos na marca, é quase impossível não imaginar um carro vermelho.

Um negócio forte dentro e fora das pistas: a empresa vendeu 13.752 carros em 2024, com receita líquida de 6,67 bilhões de euros e lucro operacional de 1,88 bilhão de euros, alcançando margem de 28,3%. Apenas a Scuderia Ferrari teve faturamento de 670 milhões de euros em 2024, com estimativa de fechar 2025 com 820 milhões de euros.

Gosto sempre de pensar que, antes de mudar um logo, precisamos respeitar a história por trás dessa marca e, quando estamos trabalhando na criação de uma identidade de marca, a história é, sem dúvida nenhuma, uma das maiores referências que vamos encontrar.

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