Eu não sou um chorão, mas muitas vezes, na intimidade, me emociono e uma única lágrima corre. Se tem alguém perto, é sempre constrangedor, pois fui criado com a impressão de que homem não chora. Já estive em enterros de pessoas amigas e familiares e acabei chorando muito pouco. Posso dizer concretamente que já passei muito tempo sem derramar uma lágrima, mas me pergunto o motivo.
Não lembro de alguém ter me dito que eu não poderia chorar, mas fui criado por um sistema de crenças machistas que sustenta a superioridade do masculino — uma grande bobagem — e que valoriza o controle e a não expressão dos sentimentos.
Fico pensando no peso de tudo isso, de como isso afeta nossa saúde mental, nossos relacionamentos e de como não sabemos lidar com esse tipo de reação. Lembro de ouvir de um chefe, há muito tempo, que ele não contratava mulheres para o seu time porque “acabaria fazendo elas caírem no choro”. Posso garantir que ele fez homens adultos chorarem escondidos no banheiro ou em seus carros. E novamente me pergunto: para quê?
Com a presença cada vez maior das mulheres no mercado de trabalho, muitas delas, que já foram sufocadas e forçadas a seguir esses nossos padrões sem sentido, também foram orientadas a não expressar suas reações em público.
Penso que não existe nada mais lindo do que uma lágrima que cai num momento de muita dor. Como fui treinado a chorar pouco, tenho muito controle sobre essa emoção, mas, quando me permito sentir, me sinto muito bem.
Lembro de uma difícil reunião familiar em que meu padrasto se rendeu ao clima tenso da discussão e chorou. Parecia que estavam arrancando um pedaço do meu peito. Como filho zeloso, tomei a raiva como arma e agredi minha irmã de forma violenta. Sim, as guerras e o militarismo nos fazem ser assim. E novamente me pergunto: não deveria eu ter chorado com ele, ao invés de querer manter a sensação de que era tão forte?
A maior presença do feminino me presenteou, esta semana, com uma reunião onde uma pessoa chorou e muitas outras também choraram. O choro era justo e nos uniu. Gosto de alguns amigos que choram, e que sempre avisam: “Cuidado, eu sou chorão”.
Só tive o privilégio de viver com meu pai por 17 anos e sete meses. Não lembro de vê-lo chorando de tristeza ou de alegria, nem ao menos uma vez. Talvez nosso tempo tenha sido curto, mas eu entendo que teria sido restaurador.
Tem um trecho na Bíblia que me impressiona, pois fala da história de Lázaro, que, pelos textos, entendemos ser amigo de Jesus. Ele faleceu enquanto Jesus estava em viagem, e, na sua volta, a irmã de Lázaro disse a Jesus: “Se estivesse aqui conosco, ele não teria morrido”. Jesus pediu para ir até a tumba de Lázaro — já fazia alguns dias que ele tinha morrido — e, segundos antes de o ressuscitar diante de todos, me deu a maior lição. Ele sabia que ia ressuscitar Lázaro, mas, ali, antes de trazê-lo de volta, o texto diz que Jesus chorou.
Estamos vivendo um mundo novo, cheio de emoções. Estamos com mais gestoras mulheres, e a visão do mundo feminino está cada vez mais presente nos ambientes de trabalho. Isso nos traz mais cuidado, afeto e carinho.
Sei que não é fácil, mas nunca se envergonhe de uma de suas emoções. Sinta, espere pelo afeto — tenho certeza de que ele virá.
Esta semana, tive o privilégio de ver isso acontecer numa cerimônia muito especial, e digo às pessoas que ali estiveram e choraram: este foi um dia que ficará para sempre em nossas mentes.
A transformação começa com você…
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