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Fonte: Unsplash

A desconexão não define quem eu sou

A era digital nos expõe constantemente. No entanto, nem sempre estamos cientes do impacto dessa exposição em nossa identidade. Cada postagem que fazemos, cada comentário em uma publicação de um amigo, cada curtida revela pedaços das nossas crenças e opiniões. 

Seja uma crítica a um serviço ou uma recomendação de restaurante, cada interação online contribui para a construção da nossa narrativa. Vamos deixando rastros digitais que tanto podem revelar quem somos quanto refletir quem gostaríamos de ser. 

Recentemente, em um evento com amigos queridos, percebi como eles acompanhavam minha vida por meio de postagens simples. Com base no que compartilhei, criaram impressões que nem sempre condiziam com a realidade. Isso me fez refletir: eu realmente entendo quem sou neste momento, mas será que o mesmo vale para quem me observa apenas pelas redes? 

Curiosamente, nossos telefones, orientados por algoritmos, acabam nos conhecendo melhor do que muitos amigos ou familiares próximos. Eles captam reações que muitas vezes mantemos só para nós, além de lerem nossos textos e, em alguns casos, até ouvirem nossas conversas. Se nossos telefones revelassem quem somos, será que ficaríamos surpresos? 

Essa dinâmica tem fomentado um movimento crescente entre os jovens: o chamado “descompartilhamento” ou “feed zero”. Trata-se de uma postura mais consciente sobre os danos que a superexposição pode causar à saúde mental. 

À medida que nossas relações se tornam mais digitais, nossa presença online se transforma em uma extensão significativa de quem somos. Afinal, os algoritmos ampliam nossas conexões. Todos os dias, alguém visualiza meu perfil ou interage comigo em uma rede social. Pode ser alguém tentando vender um curso de inglês, criptomoedas, consultoria de investimentos ou, quem sabe, um novo amigo em potencial. 

Mesmo sem uma narrativa clara em nossas redes, os algoritmos sabem muito bem quem somos — ou pelo menos entendem o que gostamos e o que rejeitamos. Eles continuam expondo nossos perfis, muitas vezes conectando-nos a pessoas que representam oportunidades, sejam de amizade, trabalho ou aprendizado. 

Vivemos em um mundo onde estamos cada vez mais sozinhos, mas nossos perfis continuam ativos. Antes, decidíamos onde estar, com quem nos relacionar e como interagir. Hoje, esses limites são menos definidos.

Admiro o cuidado dos jovens em evitar a superexposição. É saudável. Mas me pergunto: será que conseguimos manter nossa privacidade intacta em um mundo tão conectado?

Aprendi que, muitas vezes, uma simples postagem de um familiar ou amigo pode revelar algo que tentamos esconder. Tentamos subverter as regras, mas o jogo já foi estabelecido, e nós escolhemos participar.

Ainda há pessoas com uma presença digital mínima, e admiro sua disciplina em evitar ferramentas, algoritmos e comunidades digitais. Tenho buscado limitar minha própria presença online, mas estou ciente de que, inevitavelmente, ainda estou exposto. Minha recente conversa com amigos deixou claro o quanto é difícil controlar a mensagem de uma simples postagem.

Seja online ou offline, a coerência e consistência são fundamentais para construir confiança e identidade. Contudo, é nas relações pessoais que realmente conhecemos as pessoas. Tenho receio de que o futuro nos leve a conviver mais com as imagens que criamos nas redes do que com quem realmente somos.

Cuide da sua saúde mental. Se a exposição está te afetando negativamente, considere reduzir o consumo ou estabelecer momentos de desconexão. Se você se sente cada vez mais sozinho, programe almoços com amigos ou uma cerveja no fim do dia. Mais importante do que reduzir a exposição nas redes é estar exposto ao convívio real com outros seres humanos.

Sucesso na sua carreira!

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