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Fonte: Unsplash

Por que queremos trabalhar menos?

Tenho a sorte de trabalhar com algo que amo. Não pense que isso faz o trabalho ser apenas mais divertido; minha experiência em relação ao esforço é diferente. Sim, trabalho mais do que algumas pessoas, mas essa é uma escolha minha. A verdade é que sinto prazer nas atividades do meu trabalho, mas sei que não é assim para todos.

Pense, por exemplo, em um motorista de ônibus, uma operadora de telemarketing, um atendente em uma loja do shopping. Eles estão lá, presencialmente, enquanto você talvez leia este texto no conforto de sua casa. Esses trabalhadores não têm a opção do home office e mantêm uma relação com o trabalho completamente diferente da minha. Para eles, o trabalho é um meio de obter o salário que lhes permite aproveitar o tempo livre da forma que desejam.

Quando, no final do ano passado, percebi o movimento crescente das empresas para estimular o aumento dos dias de trabalho presencial nos escritórios, comecei a me perguntar onde isso nos levaria. Fala-se muito em preservar a cultura da empresa, e confesso que dou risada ao ler alguns textos sobre o tema, lembrando dos livros de Peter Drucker. Gosto especialmente de uma citação dele: “A cultura come a estratégia no café da manhã.” Essa provocação nos lembra que a essência de uma empresa tende a prevalecer sobre o planejamento e as boas ideias.

Eu adoraria acreditar que gestores e presidentes têm o poder de, por meio de reuniões presenciais, criar a “cola” que une as equipes e valoriza o trabalho presencial. Embora muitos vejam a cultura como uma ferramenta para gerar resultados, já estive em times onde apenas a demissão alterou comportamentos. E, se você me entende, isso não é mudar atitude – é gerar obediência pelo medo.

Percebo que as mudanças no ambiente de trabalho têm várias respostas. Algumas empresas eliminaram o trabalho presencial por completo, já que identificaram ganhos financeiros com a eliminação dos escritórios e da infraestrutura física. Sempre teremos ganhos e perdas; nada é 100% perfeito. O mais interessante é que essa questão do trabalho remoto afeta apenas uma parte do mercado, e uma parte pequena. Trabalhadores do varejo, da indústria e do agronegócio, por exemplo, não têm a opção de trabalhar de casa.

Por isso, vejo o movimento em prol da semana de quatro dias como um possível divisor de águas. Sei que essa ideia não alcança todos os setores – afinal, um hospital, por exemplo, não pode funcionar apenas quatro dias por semana. Ainda assim, não me surpreendi ao ler que algumas empresas planejam eliminar o uso de funcionários humanos em suas fábricas, aproveitando os avanços da Inteligência Artificial para expandir o uso de robôs.

Isso me fez lembrar o conceito de “Light-Out Manufacturing”, ou “fábricas no escuro” – operações totalmente automatizadas, que requerem pouca ou nenhuma intervenção humana e podem operar sem luzes.

Também me pergunto por que os shoppings, por exemplo, continuam funcionando todos os dias da semana. Se sábado e domingo são os dias fortes de vendas, por que abrir as lojas na segunda-feira? Em uma palestra sobre varejo, ouvi que vendedores passam boa parte do dia ociosos.

Estamos caminhando para um varejo mais eletrônico. Vejo cada vez menos pessoas no cinema, pois o conforto de casa e a qualidade das transmissões digitais trouxeram parte da experiência para o lar. Hoje, vivemos cada vez mais “acastelados” em nossas casas, e me pergunto se isso é realmente bom. Não me lembro de ouvir tanto sobre burnout, ansiedade e depressão como agora. Se estamos buscando mais qualidade de vida, onde estamos errando?

As novas gerações são menos apegadas a empregos, cargos e promoções. Gosto dessa mudança, mas não vejo sinais de que sejam mais felizes. Entendo que elas rejeitam as pressões que minha geração enfrentou, como o medo de uma demissão repentina. Ainda assim, me preocupo que a busca por trabalhar cada vez menos nos conduza a um mundo com cada vez menos opções de emprego.

Eu valorizo o contato humano. Não me vejo usando um veículo autônomo; prefiro conversar com o motorista do Uber. Não gosto de passar minhas compras em uma máquina no supermercado sem o auxílio de operadores, mas faço. Pode parecer antiquado, mas aprecio o contato humano e valorizo um bom atendimento.

Quanto mais indicamos que o emprego é um problema a ser eliminado, mais avançamos em direção à automação. Será que esse movimento já é irreversível?

Meu convite é que você aproveite mais o contato humano. Tire os fones e converse com as pessoas, ou agende aquele almoço com um amigo que lhe pede isso desde o início do ano.

Sucesso na carreira!

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